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Argentinos são obrigados a comer gatos e ratos

Por Agencia Estado
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"Fica melhor se for condimentado com alho". Este comentário gastronômico, pronunciado esta semana na cidade de Quilmes, na Grande Buenos Aires, refere-se à forma como a carne de gato pode ficar mais saborosa para o paladar humano. Por causa do rápido alastramento da pobreza nessa cidade que no passado integrou o cordão industrial mais poderoso da América Latina, os felinos estão desaparecendo rapidamente das ruas de Quilmes para alimentar os esfomeados argentinos. No início dos anos 90, nas principais cidades do país, ainda era comum ver os operários da construção civil fazendo um opulento churrasco na hora do almoço. Mas logo depois vieram os governos dos ex-presidentes Carlos Menem (1989-99), Fernando de la Rúa (1999-2001) e do atual presidente, Eduardo Duhalde, que mudaram radicalmente o cardápio da classe baixa argentina. Em todo o país, o índice de desemprego estaria ao redor de 24%, segundo cálculos de integrantes do governo Duhalde. Os analistas, no entanto, são mais pessimistas, e afirmam que o desemprego em toda a Argentina já atingiria 30% dos trabalhadores. Em Quilmes, a situação é mais grave, já que, segundo a consultora Equis, 38,1% da população economicamente ativa estão desempregada ou sub-empregada. Além disso, 45% das pessoas com empregos não possuem carteira assinada. A pobreza nesse município de 600 mil habitantes estaria atingindo 55% da população. Destes, 24,1% são considerados indigentes. Dos 115 mil menores de 15 anos, 45 mil não conseguem alimentos suficientes para suprir as necessidades diárias de calorias para um desenvolvimento adequado. Segundo o jornal Página 12, os habitantes pobres de Quilmes estão recorrendo à caça de gatos para se alimentar. Pepe um dos entrevistados que tenta sobreviver como catador de papel e garrafas, afirma que é preciso paciência com a carne felina, já que ela requer uma hora de fogo baixo. Além disso, aproveitando as dezenas de riachos e banhados que passam pelo município, os quilmeños estão aproveitando a presença de rãs para complementar sua alimentação. Em um dos relatos do Página 12, Ariel, uma das crianças da cidade, afirma que entre carne de cavalo e a de rã, prefere a de cavalo. "É mais gostosa que a de rã", explica. A situação dos habitantes de Quilmes agravou-se nos últimos meses, com o aprofundamento da recessão. Dali para cá, segundo o Página 12, além das rãs e cavalos, os ratos - caçados nas lixeiras da cidade - também começaram a integrar o menu diário. Segundo as pessoas consultadas pelo jornal, os animais são lavados em água sanitária para "eliminar as doenças". Nos últimos cinco meses, o desespero começou a tomar conta de grande parte da população da Argentina. De lá para cá, com o aumento do desemprego e da pobreza, diversas cidades do país registraram saques a trens que carregavam farinha e caminhões que transportavam leite. Na cidade de Rosário, um caminhão que capotou com um carregamento de vacas foi atacado por moradores famintos de uma favela, que esquartejaram as reses no lugar.

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