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Arrecadação total do leilão de aeroportos soma R$ 2,377 bilhões

Dos três blocos licitados, dois foram para grupos estrangeiros; vencedores disseram ter interesse em novas concessões; nova rodada será anunciada segunda-feira

Por Renée Pereira
Atualização:

O primeiro leilão de concessão do governo de Jair Bolsonaro teve forte disputa e terminou com um ágio de quase 986%, com uma arrecadação de R$ 2,38 bilhões aos cofres da União. No total, nove grupos participaram da licitação dos três blocos, com 12 aeroportos, realizada nesta sexta-feira na B3, em São Paulo. A espanhola Aena, a suíça Zurich e as brasileiras Socicam Terminais Rodoviários e Sinart saíram vencedoras, e já disseram ter interesse na nova rodada de concessões que será anunciada segunda-feira pelo governo.

Para Tarcísio Freitas, resultado mostra acerto de modelo. Foto: Helvio Romero/ESTADAO

Com a predominância de grupos estrangeiros, o leilão contou com algumas estreantes de peso do setor aeroportuário mundial, como a francesa ADP, a alemã AviAlliance, controlada pelo fundo de pensão canadense PSPIB, e a Aena. A espanhola foi a vencedora da licitação do bloco Nordeste, que inclui os aeroportos de Recife (PE), João Pessoa e Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Juazeiro do Norte (CE).

O grupo suíço Zurich Airport já administra no Brasil o aeroporto internacional de Florianópolis. Foto: Reuters

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Considerado o mais atraente pela proximidade com a Europa e o potencial turístico, esse bloco teve oferta de seis grupos e protagonizou uma disputa inusitada pelo segundo lugar durante toda etapa de viva voz. A Aena deu um lance inicial de R$ 1,85 bilhão. Mas, pela regra, as três melhores ofertas poderiam ir para o leilão viva-voz (lances ao vivo).

Zurich Airport e o Consórcio Região Nordeste, formado por Pátria e AviAlliance, disputaram por 17 rodadas a segunda posição no bloco, já que os lances eram sempre menores que o já oferecido pela Aena. Num saguão lotado de advogados, especialistas e empresários, a estratégia virou alvo de teses.

Alguns acreditavam que os grupos estavam ganhando tempo para refazer suas contas; outros afirmavam que as empresas podiam estar apostando numa possível desclassificação da Aena no futuro. No final, a Zurich elevou em R$ 1 milhão sua oferta acima da feita pela Aena, mas a espanhola contra-atacou com uma lance de R$ 1,9 bilhão e fechou o leilão. “Estávamos preparado para ganhar”, afirmou o diretor da área internacional da Aena, Juan José Alvarez.

A Zurich, no entanto, não saiu de mãos vazias. Com uma oferta de R$ 437 milhões e ágio de 830%, a suíça venceu o bloco Sudeste, que inclui os aeroportos de Vitória (ES) e Macaé (RJ). O grupo de terminais do Centro-Oeste, considerado o menos atraente, foi disputado por dois consórcios: o Construcap Agunsa e o Aeroeste (Socicam Terminais Rodoviários e Sinart - Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico).

Apesar de ser conhecida mais pela administração de terminais rodoviários (como a Rodoviária do Tietê, em São Paulo), a Socicam faz a gestão de 10 aeroportos regionais. Mas, para se habilitar, precisou da capacidade da Sinart, que atua no aeroporto de Porto Seguro e movimenta mais de 1 milhão de passageiros. As duas empresas arremataram o bloco com o maior ágio do leilão: 4.739%. A outorga inicial era de apenas R$ 800 mil.

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Confiança

Na avaliação do ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o resultado do leilão, que vai exigir investimentos de R$ 1,47 bilhão nos primeiros cinco ano, é uma demonstração de confiança no País. “Também mostra o acerto do modelo de blocos, que já era usado no exterior e, pela primeira vez, foi adotado no Brasil.” 

Sobre os elevados ágios, Freitas tentou afastou qualquer semelhança com as primeiras rodadas de licitação de aeroportos, vencidos em boa parte por empresas que depois se tornaram alvo da Lava Jato, e cujos contratos tiveram de ser revisados. “Aos poucos, fomos tirando incentivos para os oportunistas; hoje, por exemplo, não há mais a participação da Infraero, que atraía o setor da construção. O foco agora é na prestação de serviço; a outorga (que é paga no ato da assinatura do contrato) é uma coisa secundária.” Para ele, os lances são resultado da livre concorrência, que permite que as expectativas sejam superadas.

O ministro Carlos Alberto Santos Cruz, da Secretaria de Governo da Presidência da República, destacou que o modelo de concessão vai continuar sendo executado pelo governo.

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Nova rodada

Ao lado dos vencedores dos 12 aeroportos leiloados, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anunciou que a 6.ª Rodada de Concessões Aeroportuárias será lançada na segunda-feira. Segundo ele, a expectativa é que até setembro de 2020, 22 aeroportos sejam concedidos para a iniciativa privada. Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ) ficariam para a última rodada, em 2022. Antes disso, no entanto, a expectativa é vender as participações da Infraero nos aeroportos já concedidos para a iniciativa privada. Os estudos começarão em breve e devem ser finalizados ainda este ano.

O anúncio aguçou o apetite dos investidores, animados com o resultado do leilão de sexta. O diretor da Aena Internacional, Juan Jose Alvarez, afirmou que “sem dúvida” vai estudar os novos blocos de aeroportos que serão concedidos pelo governo. Além do R$ 1,9 bilhão a ser pago na assinatura do contrato, a empresa espanhola deverá desembolsar R$ 788 milhões ao longo dos primeiros cinco anos de contrato em obras de melhorias nos aeroportos estabelecidas no contrato.

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Segundo Alvarez, a expansão da Aena na América Latina já estava aprovada em seu plano estratégico. “Por enquanto estamos no México, Colômbia e Jamaica; agora, onde vemos oportunidades é no Brasil. Foi onde concentramos nosso trabalho”, disse o executivo.

A espanhola é a maior gestora de aeroportos do mundo em número de passageiros, operando 46 aeroportos e dois heliportos na Espanha, além de deter 51% de participação no aeroporto de Luton, em Londres.

A Zurich, que venceu o bloco Sudeste, também demonstrou interesse pelos próximos leilões, mas a empresa tem planos ainda mais ambiciosos. Ao lado da gestora IG4, avalia a compra de Viracopos, que está em recuperação judicial. A suíça já administra, com a CCR, o aeroporto de Confins (MG) e o de Florianópolis, que venceu em 2017.

O grupo que arrematou o bloco Centro-Oeste também garantiu que estará presente nos próximos leilões. O diretor superintendente da Socicam, José Mario Lima de Freitas, destacou que a participação no leilão de sexta-feira foi apenas o primeiro passo na administração de aeroportos maiores. “Vamos seguir nesse caminho e vamos participar das próximas licitações”, afirmou o executivo.

A empresa, diz ele, não é novata no segmento. Ela já administra dez concessões de aeroportos regionais, sendo que duas estão localizadas na Região Centro-Oeste, onde ganhou o leilão. Entre eles, os aeroportos de Goiânia (desde fevereiro de 2016) e Caldas Novas (desde novembro de 2015). /LUCIANA COLLET, FABIANA HOLTZ, DANIEL WETERMAN e RENÉE PEREIRA