De profeta e louco todo mundo tem um pouco, diz o ditado especialmente modificado para este texto.
A cada fim de ano a demanda por previsões aumenta. Mas é difícil separar o que são previsões propriamente ditas de meros votos ou de apostas. Quem olha para a tabela ao lado verifica que até mesmo consultores tarimbados e gente graúda que põe dinheiro grosso a prazo, como a que está reunida no Boletim Focus do Banco Central, podem fracassar nas projeções. As que estão sendo feitas agora para todo o ano de 2022 estão talvez ainda mais sujeitas a erros.
De positivo para os próximos 12 meses pode-se dizer que as contas externas deverão continuar excelentes. As reservas estão a US$ 364,2 bilhões, o que dá quase dois anos de importações. A produção do setor agropecuário será recorde e contribuirá para importante crescimento das exportações. E algum grau de normalização dos fluxos globais de produção e distribuição também parece inevitável.
No entanto, este ano novo nasce carregado de três grandes incertezas e de outras – derivadas dessas grandes.
Uma delas é a evolução da pandemia. Não dá para dizer agora que começa o período pós-covid, porque ninguém sabe quanto o Brasil e o mundo estão sujeitos a novas variantes do vírus. Já faz um mês que as autoridades da África do Sul anunciaram o aparecimento da variante Ômicron e, no entanto, os infectologistas ainda não conhecem o suficiente da sua natureza de modo a preparar o contra-ataque. O que se pode dizer é que a população do Brasil e de grande número de países está mais vacinada ou imunizada contra ele. A partir dessa megaincerteza, já não se sabe se voltará a ser necessário paralisar a atividade econômica e o quanto os fluxos de produção e comércio voltarão a desorganizar-se.
A outra grande incerteza, desta vez específica do Brasil, é de natureza fiscal. O governo Bolsonaro, em conluio com o Congresso, furou o teto de gastos e oficializou certo calote no resgate dos precatórios. A partir daí, estão abertas as portas para toda a sorte de despesas eleitoreiras. E aí chegamos à terceira maior incerteza. Sabe-se lá o que o presidente Bolsonaro aprontará para tentar convencer o eleitor a clicar seu voto na sua candidatura. Se confirmado o favoritismo das esquerdas, também poderá aparecer insegurança.
Derivadas dessas vêm mais incertezas. São elas: o comportamento da economia global, a atuação dos grandes bancos centrais no enxugamento de recursos despejados na crise, a trajetória do câmbio e da inflação, o nível dos investimentos, o desempenho do PIB e o desemprego.
Apesar desses e outros pesares, feliz ano-novo.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA