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As perguntas que a entrevista de Carlos Ghosn pode ajudar a responder

Expectativa é que executivo, além de falar sobre detalhes de sua fuga, também coloque na mesa acusações de conspiração contra a Nissan nesta quarta-feira

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Por Fernando Scheller
Atualização:

BEIRUTE – A aguardada entrevista de Carlos Ghosn, ex-todo-poderoso da aliança Renault-Nissan, pode responder várias perguntas sobre o passado e também sobre o futuro do executivo que foi preso no Japão, em novembro de 2018, e deixou o país em uma fuga empreendida em 29 de dezembro do ano passado, bem em meio às comemorações do ano-novo, principal feriado japonês.

Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan Foto: Kazuhiro Nogi/ AFP

A entrevista pode ser a chance de Ghosn explicar como foi sua saída do Japão – embora muitos apostem que ele vá evitar dar detalhes demais sobre o tema. E deve servir de palco para a apresentação de sua defesa. Muitos apostam seu principal alvo será a Nissan. Ele deve acusar ex-colegas de conspiração. Na terça-feira, 7, prevendo um ataque, a montadora divulgou, após muito tempo de silêncio, um comunicado dizendo que ter feito uma investigação criteriosa sobre o executivo. 

Ex-titã da indústria automotiva, Carlos Ghosn está mobilizando a imprensa internacional, que está presente em peso em Beirute. Com nacionalidade brasileira (onde nasceu, em Porto Velho), libanesa (onde foi criado pela mãe) e francesa (onde cursou universidade e ganhou notoriedade como executivo), Ghosn conseguiu apoio do governo do Líbano, que garantiu que não vai extraditá-lo para o Japão. 

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A seguir, alguns dos pontos que podem ser esclarecidos sobre o caso Ghosn x Nissan na entrevista prevista para as 10 horas (no horário de Brasília) desta quarta-feira, 8:

Rota de fuga

Embora já se saiba que Ghosn deixou o Japão por jatos particulares alugados de uma empresa turca, algumas questões levantadas ao longo dos últimos dias seguem sem resposta: ele foi mesmo de trem de Tóquio a Osaka? Como ele passou pelas autoridades aeroportuárias sem ser percebido? Quem o ajudou na fuga?

Direito de defesa

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Até agora, Ghosn nunca fez uma ampla defesa sobre as acusações que pesam contra ele. A Nissan chegou a dizer que ele teria escondido US$ 44 milhões de sua renda. O executivo deve dizer que foi alvo de uma conspiração. A entrevista pode ser a chance de ele mostrar documentos e também explicar as razões pelas quais a empresa teria interesse em prejudicá-lo.

Relação com o Líbano

O Líbano é uma pequena economia em crise econômica e que recebeu cerca de 1 milhão de refugiados sírios ao longo dos últimos anos. Com indústria fraca e prejudicada por conflitos iminentes em seu entorno, o país virou o porto seguro do executivo. Em alguns programas de TV libaneses, políticos chegaram a sugerir que Ghosn pode ser um bom consultor para o Estado libanês ou até, no futuro, exercer um cargo no governo.

Sistema judiciário japonês

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Contando as duas vezes em que foi preso, Carlos Ghosn ficou durante quatro meses em um centro de detenção japonês. Ele poderá detalhar mais esse período e sobre as táticas da Justiça do país para extrair confissões de seus acusados. No Japão, a taxa de condenação do judiciário chega a 99%. Ghosn já apontou, em comunicado, ter fugido de um sistema injusto, no qual ele acredita que não teria direito a um processo de julgamento justo.

Busca por um desfecho

Com o processo no Japão interrompido pela fuga do executivo, uma das opções seria transferir o processo de Ghosn para o Líbano – possibilidade que já foi aventada pelo ministro da Justiça libanês, Albert Serhan. Ele disse que, em respeito ao governo japonês, essa seria uma alternativa à extradição do executivo, uma vez que as duas nações não têm um acordo nesse sentido.

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Rumos para a carreira

Apesar de ter 65 anos, muita gente aposta que a carreira de Carlos Ghosn não está totalmente encerrada. O executivo, que ajudou a montar a aliança Renault-Nissan ainda no fim dos anos 1990, e trouxe a Mitsubishi mais recentemente para o grupo, ainda poderia buscar outras metas profissionais? Se tiver de ficar no Líbano por um longo período, suas ambições caberiam em uma economia de recursos limitados?

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