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Ascensão social traz exemplos de superação

Nas trajetórias do médico Deusdeth do Nascimento e da bacharel em Direito Allyne Andrade, esforço para atingir os objetivos

Por Bruno Boghossian
Atualização:

O caminho trilhado pelo dr. Deusdeth do Nascimento, entre a infância pobre no interior da Bahia e o reconhecimento como referência em cirurgias de coluna, deixou marcas em Salvador, na Selva Amazônica e em Paris. O ortopedista superou estigmas raciais ao mudar de cidade com a família aos oito anos para estudar em escola pública, viver em áreas de fronteira e contrair empréstimos para se pós-graduar no exterior, seguindo princípios resumidos por ele mesmo: "Sempre conseguimos ir além daquilo que julgamos ser o limite".Médico respeitado, dono do Centro Especializado da Coluna Vertebral e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), Deusdeth deixou para trás a vida simples em São Roque, distrito do município de Coaraci, a 443 km da capital baiana, e hoje mora em um condomínio fechado na orla da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Deusdeth se esforçou para vencer dificuldades enfrentadas por negros no País. Apesar de mostrar desconforto para discutir o tema, o médico usa sua história como exemplo de superação. "Não se pode negar que existe preconceito, mas não se pode ficar em um muro das lamentações, porque, assim, não se chega a lugar algum", afirma. "Hoje, me sinto confortável, sem essa fixação com a questão racial."Nascido em 1948, Deusdeth estudou em escolas públicas e precisou recorrer a um programa de crédito estudantil para pagar o curso de Medicina na Universidade Católica da Bahia. No segundo ano, já acompanhava cirurgias e passou a morar no quarto dos plantonistas. Servindo ao Exército, passou 19 meses na Amazônia, na fronteira com Venezuela e Colômbia, e se endividou novamente para pagar o curso de pós-graduação na França."Nada cai do céu. Se há algum problema, você deve se esforçar para buscar o seu objetivo." A determinação é tanta que Deusdeth costuma se levantar às 4h30 e entrar na sala de cirurgia às 6h, para operações que duram até oito horas. Entre reuniões na ABBR, o atendimento na clínica particular e visitas a pacientes, dedica à medicina 14 horas por dia.Trajetória semelhante parece seguir a estudante Allyne Andrade, de 24 anos. Formada em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ela conquistou uma vaga no vestibular pelo sistema de cotas para estudantes negros e pardos. "Meu pai não teria condições de pagar um curso pré-vestibular ou uma faculdade particular. Se não fosse pelo sistema de cotas, talvez tivesse demorado mais."Durante o curso, a estudante teve a oportunidade de participar de um programa de intercâmbio em Kobe, no Japão, onde estudou Direito Internacional, e pagou livros e cursos de idiomas com o dinheiro ganho em estágios. "É uma luta. Mesmo estando em universidade pública, você enfrenta obstáculos financeiros que precisa contornar."Para Allyne, o programa de cotas é uma ferramenta fundamental para aumentar a inclusão de negros no ensino superior e proporcionar boas condições de vida. "Meus primos achavam que nem sequer conseguiriam entrar numa universidade pública, mas, vendo o meu exemplo, decidiram prestar o vestibular."EsforçoDEUSDETH DO NASCIMENTO MÉDICO ORTOPEDISTA"Não se pode negar que existe preconceito, mas não se pode ficar em um muro de lamentações"ALLYNE ANDRADEBACHAREL EM DIREITO"Se não fosse pelo sistema de cotas, talvez tivesse demorado mais"

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