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Ata do Copom indica freio no corte de juros

Texto fala em ''''maior parcimônia'''' e leva economistas a reduzirem suas apostas para 0,25 ponto porcentual

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

Acendeu a luz amarela. São fortes as indicações que o Banco Central vai diminuir o ritmo de queda da taxa de juros, a julgar pelo tom da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento se refere à reunião de julho, na qual a taxa foi cortada em 0,5 ponto porcentual e caiu para 11,5% ao ano, num placar apertado de 4 a 3. As apostas dos economistas, agora, se concentram em cortes de 0,25 ponto em setembro e também nas duas reuniões que ainda faltam este ano, em outubro e dezembro. A indicação de freada na queda dos juros veio na primeira reunião do Copom depois que a meta de inflação para 2009 foi fixada em 4,5%, bem acima da inflação efetiva, numa decisão mal recebida pelos analistas do mercado financeiro. Segundo a ata, o corte na taxa Selic foi de 0,5 ponto em julho porque venceu a avaliação segundo a qual a forte alta do consumo - que, em tese, é combustível para a inflação - tem sido compensada pela importação de mercadorias e pela expansão dos investimentos voltados ao aumento da produção. Ambos foram considerados suficientes para aumentar a oferta de bens e, assim, reduzir o risco de alta nos preços. Esse foi o entendimento de quatro membros do Copom, segundo informa a ata. Os outros três, que votaram pelo corte de 0,25 ponto, argumentaram que seria prudente desacelerar a queda e esperar para ver o efeito dos cortes já feitos nas últimas reuniões. Eles alertaram que a economia real leva alguns meses para reagir a uma mudança nos juros, e há ''''incertezas'''' quanto ao efeito que a queda dos juros, o aumento dos salários e o fortalecimento da atividade industrial terão sobre os preços. Segundo eles, uma redução de 0,25 ponto não interromperia o processo de recuperação da economia. Além disso, os cortes menores permitiriam manter os juros em queda por mais tempo. Mesmo tendo vencido a opção pelo 0,5 ponto, a ata alerta: ''''A preservação das importantes conquistas obtidas no combate à inflação (...) demandará que, a partir de um determinado ponto, a flexibilização da política monetária passe a ser conduzida com maior parcimônia''''. Na ata da reunião anterior, de junho, o Copom falava em ''''parcimônia''''. A inclusão da palavra ''''maior'''' foi lida como uma indicação de mudança na atitude do colegiado. ''''O sinal que a taxa vai continuar caindo está dado. O sinal de que esse corte deve ser de 0,25 ponto também está dado'''', resumiu o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. O coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, concorda. ''''Já houve uma discussão do Comitê quanto à intensidade de cortes nos juros, não tem dúvida quanto a isso, e o sinal é que o Banco Central se prepara para uma inflexão no ritmo de queda dos juros.'''' RECADO A ata não trouxe nenhuma referência à meta de 2009. Nem deveria, segundo Gonçalves, pois o documento se refere à meta do ano em curso.No entanto, ele avalia que a ata trouxe um recado: a reafirmação do Banco Central como condutor da política monetária. ''''Podia ser uma ata neutra, que não dissesse nada, mas ela disse bastante'''', avaliou. ''''Ela traz uma reafirmação implícita que a diretoria do Banco Central sabe o que está fazendo, apesar de haver uma divergência no governo.'''' A fixação da meta em 4,5% foi uma vitória do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, defendia 4% e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não explicitou seu voto - embora, nos bastidores, se diz que ele preferia os 4%. A alta da inflação, diz a ata, estaria sendo provocada pelo reajuste de mercadorias e serviços ''''não comercializáveis'''', ou seja, aqueles que não sofrem concorrência com os importados. Outro perigo no horizonte apontado pelo Copom seria o aquecimento da indústria, que já utilizava 82,7% de sua capacidade instalada em maio, um recorde na série da CNI. O Copom reconhece, por outro lado, que a indústria tem investido. Mas, destaca o documento, ''''o investimento tem sido insuficiente para evitar uma elevação significativa das taxas de utilização da capacidade da indústria''''. A ata ressalta também o risco de elevação do preço da gasolina e de produtos petroquímicos, que teriam impacto em toda a economia, por causa da alta do petróleo no mercado internacional. A perspectiva de reajuste zero para a gasolina este ano está ''''menos plausível''''. TOM CAUTELOSO Influências opostas Os fatores externos e internos vêm tendo influências opostas sobre o balanço de riscos para a trajetória esperada da inflação Fatores externos O cenário externo continua benigno e ajuda a diminuir os riscos de inflação. As importações tem contribuído para conter pressões de preços. O aumento dos investimentos na produção também ajuda Fatores internos No plano interno, a expansão do emprego, da renda e do crédito continuará impulsionando a atividade econômica. O aquecimento da demanda pode gerar aumento de preços ao consumidor, embora não haja pressões significativas no curto prazo Gastos do governo Os gastos do governo também continuam contribuindo para a expansão da atividade econômica Efeitos não concretizados Parte importante dos efeitos dos sucessivos cortes de juros ainda não teve impacto no nível de atividade econômica. Tampouco os efeitos da maior atividade sobre a inflação tiveram tempo de se materializar Parcimônia A preservação das conquistas no combate à inflação e a manutenção do crescimento econômico pode exigir que a partir "de um determinado" ponto a flexibilização da política monetária seja conduzida "com maior parcimônia" Preços administrados O Banco Central elevou de 3,2% para 3,6% a projeção de alta, em 2007, dos preços administrados, como combustíveis, telefone e energia elétrica. O BC já admite que é possível um aumento no preço da gasolina neste ano

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