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Ata do Copom indica mais cortes de 0,5 ponto porcentual na taxa de juro

Estratégia é combater os efeitos da crise internacional sem comprometer os esforços para reduzir a inflação em direção à meta de 4,5%

Por Fabio Graner , Fernando Nakagawa e BRASÍLIA
Atualização:

O quadro global adverso fez o Comitê de Política Monetária (Copom) oficializar como cenário "central" sobre os rumos da economia e da inflação o que vinha sendo tratado apenas como "alternativo". A hipótese do Banco Central é que a atual crise terá um impacto equivalente a 25% do efeito da turbulência de 2008 e vai ajudar a colocar a inflação na meta mesmo com a continuidade do processo de queda "moderada" na taxa de juros. Embora os discursos e a própria execução recente da política monetária apontassem nessa direção, o fato é que o Banco Central oficializou na ata do Copom - um de seus principais documentos - o cenário que vai guiar suas futuras ações. Após o documento divulgado ontem, o mercado financeiro entendeu que o BC continuará a reduzir a taxa Selic no ritmo de 0,5 ponto porcentual. A dúvida está em até quando vai o processo de flexibilização. Na semana passada, o Copom decidiu por unanimidade cortar pela segunda vez a taxa, para 11,5% ao ano. "No cenário central, entre outras repercussões, ocorre moderação da atividade econômica doméstica, os preços das commodities nos mercados internacionais e a taxa de câmbio mostram certa estabilidade", explicaram os diretores do BC. "Mesmo com um ajuste moderado no nível da taxa básica de juros, a taxa de inflação no horizonte relevante se posiciona em torno da meta em 2012, em patamar inferior ao que seria observado caso não fosse considerado o efeito da crise internacional", completaram. Impactos da crise. No mesmo documento, alguns capítulos à frente, o BC explica que os cortes de juros servem para diminuir os impactos da crise externa no Brasil, sem comprometer o esforço de devolver a inflação ao nível de 4,5%. "O Copom entende que, ao tempestivamente mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012." Mas o próprio documento do BC acende a luz amarela. Nos dois cenários que costumavam ser tratados com prioridade pelo colegiado, o de referência (que supõe taxas de juros e câmbio constantes ao longo do tempo para prever a inflação) e o de mercado (que considera as expectativas do mercado financeiro para juros e câmbio), as estimativas da inflação oficial em 2012 subiram e estão acima do centro da meta de 4,5%.Em relatório para clientes, o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, destacou que, apesar de os modelos matemáticos tradicionalmente usados pelo BC indicarem inflação acima da meta - inclusive com estimativas acima das verificadas em agosto -, a autoridade decidiu confiar no modelo alternativo, conhecido pela sigla Samba, que aponta para o IPCA em torno de 4,5% no ano que vem. Diante disso, Santos aposta em apenas mais um corte da taxa Selic, que a levaria para 11% ao ano. Além de avaliar que a situação externa ajuda a reduzir a inflação, o BC considera que a atividade econômica interna está em processo de moderação, embora siga com perspectiva favorável.A autoridade monetária mostrou confiança de que as expectativas de inflação vão melhorar com base nos dados que mostram o IPCA mais baixo no fim deste ano e com previsões cada vez menores para o crescimento da economia brasileira. O departamento econômico do Bradesco destaca, em relatório para clientes, que a ata reforçou o cenário de novos cortes de 0,5 ponto porcentual na Selic. "Em nossa visão, a principal mensagem da ata continua sendo de que a deterioração do cenário internacional é o ponto de maior relevância para o BC atualmente, ao chamar atenção para a ampliação dos riscos para a estabilidade financeira aliada à piora das expectativas para as economias maduras", avalia o banco, que aposta em mais três cortes na taxa, levando-a a 10% ao ano. Combustíveis. Na ata, o BC também elevou a estimativa de aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha. A previsão de alta para o preço da gasolina em 2011 passou de 4% para 6,7%, que foi a variação do produto no ano até setembro. Para o gás, a expectativa passou de estabilidade para alta de 2,2%. O Copom elevou ainda a estimativa de aumento no conjunto dos preços administrados (tarifas públicas) de 5% para 5,5% este ano e de 4,4% para 4,5% em 2012.

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