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Ata dúbia pode piorar expectativas e levar BC a subir mais juro

A avaliação é do professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo

Por Ricardo Leopoldo e da Agência Estado
Atualização:

"A ata da última reunião do Copom é dúbia demais e isso é perigoso, pois não coordena as expectativas de inflação dos agentes econômicos. Tal fato pode elevar as estimativas para o IPCA. Parece que o BC está brincando com fogo", disse o professor da PUC-RJ e economista da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo. Para ele, a ata deixa em aberto qual será a decisão que o Comitê de Política Monetária, do Banco Central, deverá adotar na primeira reunião de 2011, nos dias 18 e 19 de janeiro, e será presidida pela primeira vez por Alexandre Tombini.

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Na avaliação de Camargo, a ata emitiu sinais que vão em direções opostas, inclusive no mesmo parágrafo. No 27, o texto ressalta uma manifestação feita pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, segundo a qual ações macroprudenciais não são substitutos perfeitos de medidas clássicas de política monetária, como a gestão da taxa de juros. Contudo, Camargo destacou a última linha do mesmo parágrafo, na qual consta que o Copom entende que, a depender das circunstâncias, ações macroprudenciais podem "preceder" medidas convencionais de política monetária. "Que circunstâncias e quais as medidas o BC estaria se referindo?", questionou.

Para o professor, se de um lado o BC deixa claro que o balanço de riscos para o cumprimento da meta de inflação em 2011 piorou nos últimos três meses, por outro ressalta que ainda não acabaram os efeitos sobre o nível de atividade do movimento de alta de juros realizado neste ano, que elevou a Selic de 8,75% ao ano para 9,50% em abril e que foi encerrado em julho, quando chegou a 10,75%.

Além disso, se a ata destaca uma expressão que se tornou costumeira neste documento, que é o "descompasso entre oferta e demanda", também faz um contraponto com o aumento da eficácia da política monetária. No parágrafo 22, o texto cita que o juro real de equilíbrio é igual ou menor que 6,5% ao ano para 49% dos analistas que responderam consulta do BC sobre o tema.

"Há uma chance boa de que tantos sinais dúbios crie dúvidas nos agentes econômicos sobre se o Copom buscará o cumprimento da meta de 4,5% em 2011 ou se vai tolerar um número maior", comentou. "Se isso de fato ocorrer, é possível que o Banco Central precisará reagir com mais rigor na alta de juros para voltar a coordenar expectativas", acrescentou.

Camargo destacou que, antes da reunião do Copom na semana passada, ele esperava que o próximo ciclo de alta de juros seria concluído no próximo ano e deveria requerer um incremento total da Selic de 1,5 ponto porcentual. "Agora, essas manifestações podem levar o BC a ter que elevar os juros mais do que esperado, talvez um aumento de pelo menos dois pontos porcentuais", ressaltou.

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