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Auditoria compromete executivos da PT

Relatório da PwC encomendado pela administração da Portugal Telecom sugere que o alto escalão da empresa sabia de empréstimo para a Rioforte

Por Monica Scaramuzzo e Mariana Sallowicz
Atualização:

O relatório da PricewaterhouseCoopers (PwC), encomendado pelo conselho de administração da Portugal Telecom SGPS para apurar as relações entre a operadora PT e o Grupo Espírito Santo no empréstimo de € 897 milhões feito para a Rioforte, que pertence à família Espírito Santo, está previsto para ser divulgado nesta quinta-feira, de acordo com fontes a par do assunto. O conteúdo não incrimina diretamente nenhum executivo do alto escalão das empresas envolvidas, mas indica que "pelas datas das operações e fatos, eles não teriam como não saber" do socorro à Rioforte, afirmaram fontes ao 'Estado'. "Acho que eles (executivos) serão comprometidos um bocadinho", disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

Portugal Telecom Foto: Hugo Correia/Reuters

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A não divulgação desse relatório ameaçava barrar a assembleia dos acionistas da PT SGPS, marcada para o dia 12, para aprovar a venda dos ativos portugueses da operadora de telefonia para a francesa Altice. Nesta quarta-feira, a PT SGPS confirmou, por meio de fato relevante, que a assembleia será mantida e que duas instituições internacionais - a Institutional Shareholder Services (ISS) e a Glass Lewis&Co -, voltadas para o aconselhamento de investidores, recomendaram aos acionistas da PT SGPS aceitar a proposta do grupo francês, que fez oferta de € 7,4 bilhões, com ajustes de caixa e dívida, incluindo a previsão de um pagamento diferido de € 500 milhões pelo negócio. Só os acionistas poderão adiar a assembleia, se for o caso.

De acordo com fontes, pelo menos três executivos, entre os quais Zeinal Bava, ex-presidente da Oi e da PT, Henrique Granadeiro, ex-presidente da PT, e Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, "não estavam alheios às operações realizadas nos últimos meses". O

Broadcast

, serviço em tempo real da Agência Estado, informou em outubro que, segundo uma fonte, o relatório apontaria que Bava, Granadeiro e Salgado sabiam da operação em títulos podres.

O relatório vai indicar que houve falhas de executivos na operação de empréstimo de € 897 milhões à Rioforte, poucos meses antes do colapso que culminou na queda da família Espírito Santo, dona de um império em Portugal, entre os quais o BES - que sofreu intervenção do Banco de Portugal, e fez com que a fusão entre a brasileira Oi e Portugal Telecom tivesse que ser revista.

Ao

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Estado

, Granadeiro disse nesta quarta-feira por telefone que sabia de apenas uma parte do empréstimo, de cerca de € 200 milhões, à Rioforte. Já Zeinal Bava não quis se pronunciar.

Na terça-feira, as sedes da PT SGPS e da PwC sofreram buscas da Procuradoria-Geral da República de Portugal para um inquérito de departamento de investigação e ação penal do país. A PT SGPS é uma empresa não operacional que detém 25,6% da Oi, que, por sua vez, é dona da operadora PT e detém a dívida da Rioforte,

Ações.

Mergulhada em uma longa crise desde que o calote da Rioforte veio à tona, as ações da PT tiveram nesta quarta-feira queda histórica, registrando a maior baixa diária desde que os papéis passaram a ser negociados na Bolsa de Lisboa há mais de 20 anos. As ações despencaram 19,48%, para 0,653. As ações da Oi, que caíram fortemente na terça, recuaram 0,31% nesta quarta-feira.

A expectativa é de que a venda dos ativos portugueses da PT seja aprovada por seus acionistas PT no dia 12. Rejeitar a proposta, segundo uma fonte, "seria um tiro no pé, já que as ações da PT estão derretendo". Além disso, uma nova negociação teria de ser iniciada do zero, com o valor da empresa depreciado.

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