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Líder de mercado na Oliver Wyman, Ana Carla Abrão trabalhou no setor financeiro a maior parte de sua vida, focada em temas relacionados a controle de riscos, crédito, spread bancário, compliance e varejo, tributação e questões tributárias.

Augusto

Precisamos de quem cuide da nossa democracia, dos nossos valores e da nossa cultura

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Por Ana Carla Abrão
Atualização:

O mês de agosto chegou. E com ele, abre-se formalmente o período eleitoral. Encerram-se os prazos para a inscrição dos candidatos a presidente e para a formação das chapas. As sabatinas já começaram na tentativa de atrair um eleitorado indeciso e desalentado. Uma crise econômica sem precedentes, escândalos de corrupção em série e a desilusão com uma classe política desconectada da gravidade do contexto se combinam para gerar alguma descrença e um total desinteresse que por vezes descamba para o radicalismo. 

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São 13,2 milhões de brasileiros desempregados, o país cresce pouco, após uma retração de mais de 10% no PIB per capita. Os investimentos mal cobrem a depreciação da já precária infraestrutura atual e União, Estados e municípios estão quebrados. Políticas públicas beneficiam grupos ou setores particulares; leis protegem interesses específicos ao invés de proteger o interesse público. Educação em frangalhos; saúde beirando o caos; segurança pública falida, abrindo espaço crescente para facções criminosas que a cada dia ganham mais espaço sobre o território nacional – e sobre as representações civis e públicas. Estados e municípios sem condições de prover serviços básicos – em particular para a população de baixa renda e uma rede de proteção social que transfere renda dos mais pobres para os mais ricos, como é o caso da Previdência.

O Brasil tem hoje um endividamento que atingiu 77% do PIB, gasta 39% do PIB para custear uma máquina pública inchada, ineficaz e que aloca recursos de forma ineficiente. Temos serviços públicos que são avaliados como os piores do mundo, um sistema tributário caótico, que dá força a uma guerra fiscal em que, após ganhos específicos e localizados, todos perdem. O mercado de crédito sofre com intervenções atabalhoadas de anos recentes e uma economia fechada ao comércio internacional marca o atraso de anos, senão décadas. Para completar, o sistema político, fragmentado e fisiológico, nos prende ao passado e impede a renovação.

Os problemas são amplos e complexos e não será com bravatas que serão resolvidos. A boa notícia é que há boas propostas amplamente discutidas e, quem diria, as soluções hoje gozam de uma certa convergência. As reformas da Previdência, do Estado, a tributária e a política são imprescindíveis e podem colocar o País em outro patamar, inaugurando um ciclo robusto de recuperação e crescimento. Uma agenda de reforma microeconômicas, igualmente bem mapeada e que já vem sendo colocada em prática pelas atuais equipes do Ministério da Fazenda e do Banco Central só precisam ser continuadas – e intensificadas, apoiadas por um Congresso mais comprometido. 

O que nos falta agora é a consciência para eleger um presidente à altura dos nossos problemas e capaz de entender e colocar em prática as soluções. Um presidente que também seja capaz de enxergar o tamanho das nossas oportunidades. Não podemos errar. Já erramos muito nos últimos anos, o País não tem mais margem para isso. 

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Augusto, o imperador romano, deu origem ao nome do mês de agosto. Foi ele também quem criou o primeiro sistema de previdência que se tem registro na história – e isso nada significa nos dias de hoje, frustrando os que buscam nas coincidências algum sinal dos astros. Mas augusto, como adjetivo, também é aquele que merece respeito e reverência. 

Precisamos, no meio do caos, da polarização, do ódio e do deboche, de quem consiga entender e enfrentar os problemas reais que se impõem hoje. Problemas que são econômicos, sociais, morais e éticos. Precisamos de quem cuide da nossa jovem democracia, dos nossos valores e da nossa cultura. Precisamos de quem vá adiante e não de quem nos leve de volta ao passado.

A consciência do voto é individual e única. Mas temos que entender que a escolha tem que ser feita por cada um de nós – e não permitir que a omissão dê espaço para que os outros escolham por nós. Esta talvez seja a nossa mais importante eleição. Nesse mês de agosto de 2018 temos que nos engajar e nos informar, para que sejamos capazes de eleger, daqui a exatos 60 dias, um presidente que seja, acima de tudo, um legítimo e augusto estadista.

ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA

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