SÃO PAULO - A decisão de elevar os juros básicos ao ano (Selic) em 0,50% ponto porcentual na noite desta quarta-feira dividiu opiniões. De um lado, o setor produtivo mostrou-se contrariado pelo Banco Central (BC). De outro, analistas tradicionalmente críticos à política econômica do governo Dilma gostaram do que viram.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lamentou a subida da Selic, de 7,50% para 8,00% ao ano. "A elevação da taxa básica de juros traz ganhos modestos contra a alta da inflação, prejudica a expansão dos investimentos e impede o aumento da oferta", opinou, em nota, a confederação.
Apesar de bem intencionada, de acordo com a CNI, a medida imporá ainda mais dificuldades para o setor.
"Como acaba de mostrar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, a indústria permanece estagnada", destaca o texto. "Sem uma participação expressiva da indústria, o País cresce pouco", diz a entidade.
Para a CNI, a elevação isolada dos juros não é a melhor forma de enfrentar essa equação. Prejudica a expansão dos investimentos e dificulta o aumento da oferta. Opinião semelhante foi apresentada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "Não é hora para aumento de juros", afirmou Paulo Skaf.
O dirigente lembrou o frágil momento da produção nacional. Para Skaf, o aumento dos juros colabora para que o baixo crescimento do PIB, de 0,6% no primeiro trimestre, seja mantido ao longo deste ano. "O Brasil precisa de um choque de competitividade, investimento e produção, e não da mesmice do aumento dos juros", afirmou.
A Força Sindical avaliou nesta noite que o aumento dos novos juros básicos é uma escolha ruim para o emprego. Paulo Pereira da Silva, presidente do sindicato, vê um sinal de alerta ligado. "Embora os índices mostrem bom nível de emprego, elevar a taxa Selic contribuirá para a redução de investimentos no setor produtivo".
Varejo. O setor varejista destoou das duas entidades ligadas à indústria. A FecomércioSP gostou da medida. Crê que o BC acertou duplamente ao elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual: indicou atenção à trajetória de alta da inflação e cautela ao promover o ajuste gradual da taxa.
"As medidas recentes de desoneração para alguns setores intensificaram o desequilíbrio das contas públicas e não representaram aumento do investimento e do crescimento na economia", diz a nota.
A entidade prevê aumento da Selic para 8,5% até o final do ano, em duas parcelas de reajustes.
A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad) torce para que a nova Selic "não venha a retrair ainda mais a economia, hoje movida pelo consumo interno".
Decisão aprovada. A consultoria Tendências viu com entusiasmo o resultado final da reunião do Copom. Observou como uma tentativa de recuperação de credibilidade - "abalada ao longo desses últimos dois anos", de acordo com a economista e sócia da consultoria Alessandra Ribeiro.
"Eles não se intimidaram com o resultado do PIB e tentaram ganhar alguma credibilidade", disse.
A decisão unânime, para ela, indica que a previsão da consultoria de mais uma alta em 2013, para 8,50%, deve se confirmar. "Acho que a Dilma autorizou essa atitude mais agressiva", disse Alessandra.
A tese defendida pela LCA Consultores vai no mesmo sentido. A elevação de 0,50 ponto na Selic é passo importante para o BC mostrar comprometimento com uma inflação controlada - diz o economista Antonio Madeira.
"O BC está mesmo preocupado com a inflação principalmente no ano que vem", afirmou Madeira.
Para ele, a decisão valoriza a comunicação do BC, pois há uma "coerência entre a ação e a comunicação". Madeira também aposta numa Selic em 8,5% no final deste ano.
O professor de Economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Otto Nogami diz que, pela falta de infraestrutura do País, o investimento privado não se sente estimulado. Nessas condições, diz ele, a decisão do Copom sinaliza uma adequação da taxa básica de juros à capacidade estrutural de oferta do País.