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Aumentos generalizados de preços preocupam analistas

Por Agencia Estado
Atualização:

As expectativas sobre o comportamento da inflação, que já não andavam as melhores, tiveram novo sinal de alerta com os três indicadores de preços divulgados ontem e hoje: IPCA, IGP-M e IPC-Fipe. Apenas o primeiro ficou dentro das expectativas do mercado, ainda que no teto. Os outros dois ficaram acima das projeções. O aprendiz de vilão do câmbio nos três indicadores foi desta vez o preço dos alimentos. No IPCA, esse segmento teve alta de 2,94%, a maior desde novembro de 1994. O motivo de preocupação entre os analistas é que os aumentos, ainda que com menor intensidade, vêm ocorrendo de maneira gereralizada nos demais segmentos. "Praticamente todos os setores estão tendo elevação dos preços. Hoje, diferente do passado, as altas são muito mais horizontais e menos pontuais", diz o economista Luiz Afonso Lima, do BBV, destacando que isso sugere um aumento do coeficiente de repasse do câmbio para os preços. Nas contas do BBV, esse ´pass-trough´ está hoje em 12,7%. Detalhe: essa taxa de repasse vinha caindo até setembro, estancou e agora começa a dar mostras de alta. O temor é que a pressão inflacionária, ao contrário dos "calombos" registrados em anos anteriores, possa ter sustentação ao longo do tempo. As expectativas negativas que tomam forma podem contribuir para isso. O economista Alexandre Bassoli, do HSBC, afirma que houve uma forte deterioração dessas expectativas - que em algum momento se refletirão nos preços - nas últimas semanas. Há um ano, por exemplo, o cenário de pressão sobre os preços era semelhante ao que se vê hoje. Nos 12 meses encerrados em outubro de 2001, a depreciação cambial era de 41%. Em 2002, no mesmo período, essa taxa é de 34%. "Acontece que na pesquisa do Banco Central, naquela época, foi preciso dez semanas para que as expectativas de inflação pelo IPCA subissem de 4,5% para 5% para 2002?, diz Bassoli. Agora, embora a pressão não seja significativamente distinta, as previsões para 2003 subiram de 5,4% para 9% em apenas cinco semanas." A dispersão das projeções também preocupa. "Ela está aumentando colossalmente. Se antes essa dispersão não chegava a três ou quatro pontos percentuais, hoje ela chega a 10 pontos percentuais", afirma Lima, do BBV. Trata-se de um preocupante sinal de enfraquecimento da âncora monetária, que em tese implica o risco de uma economia sem parâmetros de preços. Política monetária Os analistas dizem que as incertezas sobre o futuro da política monetária contribuem para essa deterioração e dispersão das expectativas sobre a inflação. Uma eventual maior tolerância do governo e um sistema de metas que precisa de "ajustes" ainda desconhecidos são especialmente citados nesse sentido. São ruídos reforçados pelas promessas de crescimento econômico e queda dos juros, que não fecham com um cenário que o mercado financeiro gostaria de ver de maior austeridade, mesmo que isso implique em menor crescimento econômico durante algum tempo. "O Banco Central terá de se defrontar com uma situação difícil, onde poderá enfrentar o dilema de que a preservação da estabilidade pode exigir algum sacrifício do crescimento", avalia Alexandre Bassoli, do HSBC. Os números divulgados ontem e hoje jogaram atenção especial sobre o que fará o Copom na próxima semana. Uma das variáveis de inflação a ser acompanhada com atenção é o comportamento desagregado dos preços de bens comercializáveis e de não-comercializáveis (serviços). É a chamada inflação boa e a inflação ruim. Na primeira, sobre os bens comercializáveis, os efeitos da depreciação cambial provocam um ajuste nos preços relativos que tende a acabar depois. Se esse movimento começa a contaminar os preços de serviços, a coisa se complica um pouco. Os números desagragados até o momento não permitem conclusões definitivas sobre o tema. No IPCA divulgado hoje, de 1,31%, os não-comercializáveis registraram alta de 0,38%, quase a metade da alta registrada nesse segmento no mês de setembro, de 0,62% (para um IPCA fechado de 0,72%). Nos dados divulgados ontem pela FGV, no entanto, serviços como manutenção de automóveis e dentistas mostraram alta forte, de 5% e 3%, respectivamente. "Não dá para dizer com todas as letras que vai haver essa contaminação, mas é uma possibilidade", comenta Luiz Afonso Lima, do BBV. Ainda que restrito pela fraca demanda, esse tipo de alta nos preços acaba sendo um convite para a reindexação de salários.

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