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Auxílio Brasil: famílias reclamam de demora e falta de informações

Em dificuldades, pessoas com direito ao benefício não conseguem receber

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - A diarista Isaura Batista, de 44 anos, moradora da Vila Zacarias, bairro popular da zona leste de Sorocaba, está cadastrada há mais de um ano no antigo Bolsa Família, programa federal rebatizado com o nome de Auxílio Brasil, mas não conseguiu ser contemplada, embora tenha direito. Ela é mãe da pequena Victória Emanuelle, de 4 anos, que frequenta escola infantil municipal. "Estou desempregada, sem renda e passando necessidade. Todo mês estou indo atrás, mas informam apenas que meu pedido está em análise", disse.

O aluguel da casa simples, de R$ 500, é pago pelo ex-marido. "Ele assumiu o aluguel, mas não paga pensão alimentícia. Tudo o que a gente recebe hoje é um vale-alimentação do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da prefeitura, no valor de R$ 100, mas não dá para nada. "Tenho até vergonha de dizer, mas ontem fui para a rua pedir uma caixa de leite para minha filha". Isaura tentou conseguir também o auxílio-gás, sem sucesso. "Cheguei a baixar o aplicativo no celular, mas não consegui ser beneficiada. Para a gente que é analfabeta, essas coisas são muito difíceis. Só eu sei do meu aperto", desabafou.

A diarista Isaura Batista espera há mais de um ano para receber o Auxílio Brasil Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

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Já a operadora de caixa Maria Valéria Vieira Rodrigues, moradora da Vila Zacarias, em Sorocaba, perdeu o emprego em maio e agora se vê em dificuldade para manter os quatro filhos, todos menores de idade. Ela recebeu a primeira parcela do seguro desemprego, no valor de R$ 1.212, mas o dinheiro está sendo insuficiente para fazer frente aos gastos. "Todas as crianças estão em escolas públicas e já vi que poderia estar recebendo alguns dos benefícios do Auxílio Brasil. Mas quem disse que é fácil conseguir?".

Ela contou que se dirigiu ao Cras que atende o bairro, mas foi informada de que teria de esperar na fila. A reportagem entrou em contato com o Cras e ainda espera retorno.

Falta de orientação 

Desempregada, morando de favor com a mãe e com dois filhos pequenos, em Sorocaba, interior de São Paulo, a doméstica Geovana Rafaela Oliveira, de 22 anos, não está conseguindo receber o Auxílio Brasil, mesmo tendo direito ao benefício. "Minha renda atual é praticamente zero, embora faça alguns bicos eventuais, o que não é tão fácil, por causa do meu bebê. Moro com a minha mãe, que paga aluguel, e nem consigo ajudar ela com as despesas da casa", lamentou. Até o início do ano passado, Geovana recebia o Bolsa Família, direcionado ao filho Cauã Gabriel, hoje com 4 anos. Na época, ela morava com o pai da criança, que passou um longo período desempregado.

Quando o companheiro de Geovana conseguiu um emprego, a renda dele fez com que o benefício da criança fosse cortado. O problema é que o casal se separou e ela perdeu contato com o ex, que não paga pensão para o filho. Geovana passou a morar com a mãe e teve outro filho, Miguel Henrique, que está com 5 meses. A criança também teria direito ao benefício de primeira infância. Ela disse que, no início do ano, procurou o serviço de assistência social e foi informada de que seu CPF estava vinculado à renda do ex-companheiro, o que a impediria de ser cadastrada.

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Geovana não foi orientada sobre como resolver a situação. "Eu só morava com ele, não éramos casados no papel, assim não tinha motivo para fazer a separação no papel." Cauã está na escola e ela busca vaga para o bebê em uma creche para poder trabalhar. A mãe, Lázara, também já tentou obter o auxílio, mas não teve sucesso porque trabalha com registro em carteira e recebe R$ 1,3 mil por mês. Praticamente a metade do valor vai para o aluguel da casa simples, na Vila João Romão, zona leste da cidade. Outra filha menor mora com ela, o que eleva para cinco o número de pessoas na casa, dependentes da sua renda. "Minha família está me ajudando, senão, a gente não sabe como estaria vivendo", disse.

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