PUBLICIDADE

Publicidade

Avanço para a inteligência do petróleo em SP

Por João G. Sabino Ometto
Atualização:

Foi de grande importância o referendo, em reunião do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP), à transferência do curso de Engenharia de Petróleo da Escola Politécnica (Poli) para a cidade de Santos, importante polo produtor e onde se instalou um centro tecnológico da Petrobrás. Além da mudança, o número de vagas será ampliado de 10 para 50. Nada mais pertinente, pois o curso foi criado quando o País produzia 250 mil barris de petróleo por dia. Hoje são 2,5 milhões de barris/dia e a previsão para 2020 é de 8 milhões, como explicou, naquele encontro, o professor José Roberto Cardoso, diretor da Poli, que é instituição referencial do ensino superior brasileiro.Integrante do conselho, Cardoso lembrou que o Brasil forma 38 mil engenheiros por ano, mas apenas um quarto desse contingente tem qualificação adequada. Entretanto, a demanda do mercado é de 60 mil profissionais, dado o advento da indústria do petróleo e do pré-sal. Hoje, praticamente um terço dos engenheiros brasileiros trabalha para a Petrobrás, não só de modo direto, mas em toda a cadeia. No ano passado, 21.500 profissionais da área tecnológica ingressaram no Brasil com visto da Dinamarca, numa evidência do "apagão" de recursos humanos em nosso país. No caso do petróleo, a tendência é de agravamento da situação, pois a companhia estatal, hoje com 75 mil funcionários, deverá ter 200 mil em 2020, dos quais 40 mil engenheiros.Não bastasse essa questão relativa à mão de obra qualificada, o professor Cardoso lembrou que a Petrobrás criou um polo tecnológico em Santos onde já mantém 2 mil funcionários, vários deles do exterior, trabalhando no complexo da indústria do pré-sal. Pois é exatamente nessa estrutura que deverá se instalar o curso de Engenharia de Petróleo da Poli. Nada mais pertinente, pois, além da proximidade e da interação direta com a prática produtiva e a tecnologia aplicada, a transferência atende a uma necessidade de São Paulo e do Brasil.Assim, foi oportuna e feliz a iniciativa da USP de promover a mudança, que vai ao encontro da premência do Estado de começar a pensar de maneira mais ampla e aprofundada na questão do petróleo. Afinal, o território paulista será o grande produtor brasileiro. A despeito disso, temos dificuldade de encontrar pessoas que dominem o conhecimento do tema.Toda a inteligência do petróleo está concentrada no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Petrobrás e o seu Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes). As universidades fluminenses estão aproveitando de modo amplo essas oportunidades, enquanto grandes empresas estão instalando unidades de inovação e tecnologia naquele Estado. Nada contra, pois todo esse processo é importante para o Brasil. Contudo, São Paulo também precisa avançar - e muito! - na importante área, pois tirará do fundo do mar a maior parte do petróleo brasileiro. Portanto, não pode ficar para trás.Grandes refinarias estão sendo instaladas no Nordeste. Isso suscita até mesmo uma intrincada questão de logística. O petróleo é produzido na Baixada Santista, refinado no Nordeste e, depois, transportado novamente para São Paulo, o maior centro consumidor. Trata-se de um custo desnecessário, que certamente mitigará a competitividade de toda a cadeia produtiva. É inadmissível manter uma posição de passividade diante de tal quadro, que atenta contra os interesses não apenas dos paulistas, mas de todos os brasileiros, considerando o quanto o petróleo é estratégico para a economia nacional.Assim, a decisão de transferir o curso de Engenharia do Petróleo para Santos coloca a Universidade de São Paulo, mais uma vez, na vanguarda de um processo decisivo para o Estado e a Nação. Trata-se de um exemplo de quanto o olhar consciente e amplo da academia, extensivo à realidade econômica, pode contribuir para o progresso de um país.ENGENHEIRO (EESC/USP), VICE-PRESIDENTE DO GRUPO SÃO MARTINHO E DA FIESP, É COORDENADOR DO COMITÊ DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DA ENTIDADE E MEMBRO DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA USP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.