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Aves vivas são descartadas em vala em Santa Catarina

Com ração em falta, produtor optou por sacrificar os pintinhos  

Por Daniel Cardoso
Atualização:

  FLORIANÓPOLIS - As imagens de dois funcionários jogando ovos e pintinhos vivos em um vala, no município de Palhoça, em Santa Catarina, vai resultar na abertura de um inquérito policial. Segundo o delegado Luiz Carlos Cardoso Jeremias Filho, da Delegacia de Polícia de Garopaba, a apuração do caso começou na manhã desta sexta-feira. Filho ainda não tem detalhes do caso, mas afirmou que a atitude poderá ser enquadrada como crime ambiental.

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"Precisamos entender o que exatamente aconteceu e por quais motivos. Por enquanto, estamos iniciando a abertura de inquérito", afirmou.

Nas imagens, duas pessoas são flagradas, por meio de uma câmera de celular, em cima de um caminhão. Do veículo, elas atiram pintinhos e bandejas de ovos em uma grande vala. A prática vem ocorrendo há algumas semanas e pode ter matado até 114 mil aves.

O proprietário da granja, que descartou as aves, não atendeu a reportagem de O Estado de S. Paulo.

A atitude radical de jogar animais vivos na vala expõe uma situação crítica e que se agrava em várias regiões do interior catarinense: a falta de ração para aves e suínos. Sem ter como alimentar os animais, alguns criadores preferem interromper a produção a deixá-los morrer de fome ou, como no caso mostrado pelas imagens, abater as aves antes do tempo. A crise teve início com o aumento dos insumos para a fabricação da ração e atingiu em cheio um dos principais motores da economia do Estado.

De acordo com Marcos Antônio Zordan, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC), o preço do milho e do farelo de soja, usados na ração, dispararam desde o início do ano. A saca do milho passou de R$ 23 para até R$ 36, e a tonelada do farelo saltou de R$ 550 para R$ 1.500.

"Foi um reajuste acentuado e que tornou a criação de aves e suínos praticamente inviável. A ração representa cerca de 70% do preço da carne. Com este aumento, as margens diminuíram e muitas empresas estão com dificuldade em distribuir a ração", disse.

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O cenário é resultado, principalmente, de dois eventos climáticos. O primeiro foi a seca que atingiu o Oeste catarinense no início do ano e afetou as plantações de milho. Em seguida, a safra americana também quebrou e deixou os grãos ainda mais caros. Agora, o setor luta para tentar se manter de pé. A principal alternativa é pedir ajuda ao governo federal.

"Estamos comprando grãos do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Se o governo subsidiasse apenas o frete até Santa Catarina, que custa de R$ 8 a R$ 12, o preço da ração cairia para os valores normais, dando novo fôlego aos produtores", disse.

A crise também reforça um antigo pedido dos empresários catarinenses.

"Temos urgência na Ferrovia do Frango, que ligaria o oeste de Santa Catarina aos estado do Centro-sul. Isso poderia baixar muito os custos para o setor agropecuário", enfatizou Zordan.

Apesar das dificuldades, Zordan afirma que não houve queda na produção de carnes em 2012, em relação ao ano passado. Segundo ele, os criadores resistem em trocar de cultura, pois investiram alto na construção de aviários, que chegam a custar R$ 300 mil.

"Não conhecemos outros casos como o do granjeiro que descartou os ovos e pintinhos. Foi uma atitude isolada", disse.

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