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Baixa renda sente mais a inflação dos alimentos

Comida compromete 40% da renda de quem ganha até três salários

Por Alessandra Saraiva e RIO
Atualização:

As famílias de baixa renda foram as que mais sentiram a inflação dos alimentos nos últimos dois anos. Se houver uma nova disparada de preços no setor, a camada mais pobre da população brasileira deve absorver o pior impacto da inflação alta em seu orçamento familiar. É o que mostra o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), novo índice lançado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e que abrange famílias com renda de 1 a 2,5 salários mínimos mensais. Para o cálculo do novo índice, que será repetido trimestralmente, foram feitas pesquisas nos últimos dois anos. O indicador revela que a compra de alimentos representa quase 40% do orçamento familiar das famílias de menor renda. Essa participação é de 27% entre famílias com renda maior, entre 1 e 33 salários mínimos, cuja inflação é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor-Brasil (IPC-BR). Ou seja: os mais pobres gastam mais de sua renda com alimentos do que os mais ricos, como já haviam indicado as Pesquisas de Orçamento Familiar. "Por isso, os alimentos têm um peso maior no IPC-C1. E a demanda tem crescido muito, afetando o orçamento dessas famílias", explicou o economista da fundação, André Braz. Impulsionada por alimentos mais caros, a percepção de inflação alta foi mais forte na faixa de baixa renda. Neste ano, o IPC-C1 apresentou patamar de elevação mais elevado do que no ano passado, e também do que a média em faixas de renda maior. Segundo a FGV, a inflação no varejo dos mais pobres foi de 2,20% no primeiro trimestre deste ano, maior do que em igual trimestre do ano passado (2,09%), e superior ao do IPC total (1,43%). Isso porque os produtos da cesta básica apresentaram elevações expressivas no período. Para Braz, embora as tarifas e preços controlados também tenham contribuído para o avanço da inflação nessa faixa de renda, o grupo alimentação foi destaque absoluto. A inflação no setor foi de 4,25% nos primeiros três meses do ano, e respondeu por 76% da taxa do IPC-C1, no período. O impacto da inflação dos alimentos também pôde ser sentida na taxa acumulada em 12 meses até março do IPC-C1: 10,83%, e representou 69% do total da taxa acumulada. Ao se comparar o resultado do novo índice com a média apurada pelo IPC-BR, o impacto maior da inflação do varejo para as famílias pobres se torna mais evidente. Segundo Braz, de abril de 2006 até março de 2008, o IPC-C1 acumula elevação de 9,65%, enquanto o IPC-BR, no mesmo período, é de 7,36%. Para o coordenador de Análises Econômicas da Fundação, Salomão Quadros, esse cenário reflete o comportamento das commodities agrícolas. Muitos produtos alimentares da cesta básica são derivados de commodities importantes, como a soja, o trigo e o milho. Segundo Quadros, de dezembro de 2006 para fevereiro de 2008, os preços das commodities em geral, em dólar, subiram 32,9%. Mas as commodities agrícolas subiram quase o dobro: 61,1%. "Somente a soja, no mesmo período, subiu 106,9%", afirmou. O coordenador alerta que o setor de alimentação, em escala global, tem apresentado uma relação de oferta e demanda desequilibrada. "A demanda mundial (por alimentos) tem crescido muito."

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