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Banco central americano reduz programa de estímulo econômico

Federal Reserve decidiu diminuir o ritmo de compras de títulos em US$ 15 bilhões por mês a partir de novembro

Por Christopher Rugaber
Atualização:

WASHINGTON – O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, começará desacelerar o programa de estímulo econômico que tem sido aplicado desde o início da pandemia no ano passado. A decisão é uma resposta à alta inflação que tem persistido por mais tempo do que parecia apenas alguns meses atrás.

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Em um comunicado na quarta-feira, 3, após sua última reunião de política monetária, o Fed disse que começaria a reduzir os US$ 120 bilhões em compras mensais de títulos nas próximas semanas, cortando US$ 15 bilhões por mês, embora se reserve o direito de mudar essa dinâmica. 

Essas compras têm como objetivo manter baixas as taxas de juros de longo prazo para estimular empréstimos e gastos. Com a recuperação da economia, isso não é mais necessário.

O anúncio do Fed vem em um cenário de alta dos preços em toda a economia – em alimentos, aluguéis, óleo combustível para aquecimento, automóveis e outras despesas – que vêm impondo um peso às famílias e tornou-se uma responsabilidade política para o governo Biden e seus aliados democratas no Congresso.

Federal Reserve (Fed),o banco central dos Estados Unidos. Foto: Daniel Slim/AFP

O banco central vai diminuir os US$ 80 bilhões em compras de títulos do Tesouro, fazendo cortes de US$ 10 bilhões por mês. Já as compras de US$ 40 bilhões em títulos hipotecários serão reduzidas em US$ 5 bilhões a cada mês. A autarquia disse que reduções semelhantes “provavelmente serão iniciadas” nos meses seguintes. Isso sugere que o banco central pode decidir acelerar seu recuo na compra de títulos se a inflação piorar.

Se o ritmo for mantido, as compras de títulos terminariam por completo em junho. Quando isso ocorrer, o Fed poderá decidir aumentar suas taxas de juros de referência de curto prazo que afeta empréstimos a muitos consumidores e empresas. Nesse ritmo, o aumento das taxas de juros viria muito antes do que as autoridades do Fed haviam previsto no meio do ano, quando fizeram uma previsão de que o primeiro aumento nas taxas não ocorreria até o final de 2023. De acordo com a ferramenta FedWatch da Bolsa de Valores de Chicago, os analistas do mercado esperam agora pelo menos dois aumentos nas taxas de juros em 2022.

Preocupação com a inflação

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As mudanças nas expectativas refletem um banco central que está rapidamente mudando de um esforço para impulsionar a economia e incentivar mais contratações para uma autoridade monetária cada vez mais preocupada com o aumento da inflação. Em setembro, os preços subiram em comparação com o ano anterior e na velocidade mais rápida nas últimas três décadas. O Fed agora enfrenta a delicada tarefa de desacelerar suas políticas de juros baixos, com a qual espera diminuir a inflação, sem fazer isso tão rapidamente a ponto de enfraquecer o mercado de trabalho ou mesmo causar outra recessão.

Em entrevista coletiva na quarta-feira, 3, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que as perspectivas para a inflação parecem incertas, limitando a capacidade do Fed de responder adaptando suas políticas. Ele sugeriu que a inflação deveria desacelerar no próximo ano, à medida que os gargalos da oferta diminuíssem, mas que o Fed não tem certeza do que isso irá acontecer.

Em seu comunicado, o Fed alterou ligeiramente a linguagem sobre a inflação para aumentar a possibilidade de que os preços possam continuar subindo mais algum tempo. Anteriormente, o banco havia dito que a inflação estava "alta”, refletindo em grande parte "fatores transitórios", como a escassez de oferta de produtos. Agora, diz ele, a inflação elevada reflete em grande parte "fatores que espera-se sejam transitórios".

Essa mudança traduz as recentes modificações nas declarações públicas de Powell, nas quais ele reconheceu que a inflação durou mais tempo do que o esperado e que os riscos de inflação mais alta permanecem. Ao mesmo tempo, a última declaração do Fed sugeria que as autoridades ainda pensam que a escassez de materiais e mão-de-obra são os principais fatores no aumento da inflação – fatores que presumivelmente diminuiriam com o tempo.

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“Desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia e à reabertura da economia contribuíram para um considerável aumento de preços em alguns setores”, afirma o comunicado do Fed A economia tem se recuperado de forma estável da recessão pela pandemia, embora o crescimento e as contratações tropeçaram no trimestre julho-setembro, em parte porque um aumento nos casos da variante delta desencorajou muitas pessoas de viajar, fazer compras ou refeições fora de casa.

Muitos economistas dizem estar esperançosos de que, com o aumento das vacinações e o enfraquecimento da variante delta, o crescimento do emprego será acelerado em outubro diante do ritmo fraco observado em setembro. O relatório oficial de empregos de outubro será lançado na próxima sexta-feira.

Na semana passada, o governo informou que os preços subiram 4,4% em setembro em comparação com o ano anterior – o aumento mais rápido em 12 meses desde 1991. Mesmo assim, enquanto a inflação esquenta, o mercado de trabalho não voltou com força total. A taxa de desemprego foi de 4,8% em setembro, acima do nível pré-pandêmico de 3,5%. E cerca de 5 milhões a menos de pessoas têm empregos agora do que antes da pandemia.

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Isso coloca os funcionários do Fed, especialmente Powell, em uma situação difícil: eles podem querer manter as taxas de juros de referência de curto prazo em quase zero, onde tem estado atrelada desde março último, para dinamizar a economia e estimular mais contratações. Mas estão enfrentando uma crescente pressão, inclusive de legisladores republicanos no Congresso, para conter a alta dos preços, que está comprometendo grande parte do benefício que muitos americanos têm desfrutado com os recentes aumentos salariais.

Todos os tipos de compensação salarial dispararam mais no período de julho a setembro do que nos últimos 20 anos. Isso sugeriu que os trabalhadores estão cada vez mais capazes de exigir melhores salários das empresas que estão desesperadas para preencher um número quase recorde de vagas de empregos. Mas o ganho foi em grande parte comprometido pelo aumento da inflação. E grandes aumentos nos salários podem elevar ainda mais a inflação se as empresas aumentarem os preços para cobrir seus custos mais elevados.

A reunião do Fed ocorreu tal como o futuro de Powell, ou seja, ainda incerto. O presidente Joe Biden ainda não anunciou se vai renomear Powell para outro mandato de quatro anos. O mandato atual de Powell termina no início de fevereiro, mas presidentes anteriores geralmente anunciaram tais decisões no final do verão ou início do outono. / TRADUÇÃO DE ANNA MARIA DALLE LUCHE

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