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Banco Central quer recuperar credibilidade, dizem analistas

Copom surpreendeu mercado e elevou juro básico para 11,25% ao ano; segundo Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, instituição sinalizou que adotará maior rigor na política monetária

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por , Francisco Carlos de Assis (Broadcast) e Marcio Rodrigues
Atualização:
Presidente do Banco Central, Alexandre Tombini votou pela elevação da taxa Selic Foto: Dida Sampaio/Estadão

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, avaliou que a

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alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), para 11,25% ao ano,

determinada pelo Copom, é um sinal de que o órgão busca "recuperar a credibilidade da política monetária após o embate eleitoral", numa sinalização ao mercado de um maior rigor da política monetária. Para Loyola, outro fator determinante para o aumento da Selic foi a inflação ainda resistente e acima do teto da meta de 6,5% ao ano determinada pelo governo.

"A decisão visa frear a inflação que, ao contrário do que o Banco Central esperava, mostra resistência, e tem ainda como objetivo recuperar a credibilidade da política monetária para recobrar as expectativas positivas após os embates", disse Loyola ao

Broadcast

, serviço em tempo real da

Agência Estado

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.

Loyola lembrou que a comunicação feita recentemente pelo BC sinalizava que a "porta não estava totalmente fechada" para novas altas. O ex-presidente do Banco Central, no entanto, considerou que a decisão do aumento na Selic era esperada pelo mercado para um médio prazo, entre o final deste ano e 2015. "Tinha um campo minoritário que apostava nisso (alta ainda este ano) e um número maior achava que viria mais adiante. Na Tendências tínhamos a expectativa do aumento para o ano que vem", disse.

Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o aumento da taxa de juros foi uma demonstração de autonomia do Banco Central, deixando claro que, para fazer política monetária, não precisa aguardar anúncio do nome do novo ministro da Fazenda.

A economista entende que, depois da acirrada eleição para presidente, em que institucionalmente o debate sobre a independência da autarquia saiu enfraquecida, o governo tinha de dar um sinal "e o fez por meio do BC". "Que bom que o BC aumentou a taxa de juros. Foi um bom sinal e o mercado vai celebrar este aumento", disse.

Inflação.

De acordo com o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, a decisão do BC pode ter trazido surpresa, mas era necessária. Ele destacou que estamos chegando ao final de 2014 com a inflação acima do teto da meta e com risco de que estoure esse limite tanto neste ano como em 2015.

"Nesse sentido, o trabalho do BC começou a partir da definição do cenário eleitoral. Era natural que ele não quisesse causar ruídos durante esse período, mas desde setembro houve piora da inflação corrente, das expectativas e o câmbio também subiu bastante", disse.

Sobre a taxa de câmbio, o economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, lembrou que nas últimas simulações que o BC fez o dólar estava em R$ 2,25. "Hoje, a taxa está acima de R$ 2,45, o que representa cerca de 10% de alta. Essa valorização representa de 45 a 50 pontos-base adicionais no IPCA em 12 meses", destacou. Diante disso, se antes as projeções do BC indicavam que a inflação passaria a convergir para a meta nos últimos trimestres do horizonte da política monetária, o declínio dos preços agora ficaria mais lento, com o câmbio nesse patamar, disse Serrano.

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