28 de junho de 2018 | 08h50
BRASÍLIA - Com a piora das condições financeiras no País e com a greve dos caminhoneiros, em maio, o Banco Central reduziu sua estimativa para o crescimento da economia em 2018. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta quinta-feira, 28, a instituição projetou alta de apenas 1,6% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano. A expectativa anterior, informada em março, era de avanço de 2,6%. É como se, no intervalo de três meses, R$ 65 bilhões desaparecessem da projeção do PIB, conforme cálculo da Tendências Consultoria Integrada.
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O corte de 1 ponto porcentual colocou a estimativa do BC mais próxima do crescimento de 1,55% previsto pelos economistas do mercado financeiro. O Ministério da Fazenda mantém a projeção de 2,5% – porcentual que parece cada vez mais improvável, em função dos números recentes de atividade.
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O diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana de Carvalho, atribuiu a mudança na estimativa à frustração com a economia no início do ano. “O crescimento no primeiro trimestre ficou aquém do que se vislumbrava”, afirmou. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB do primeiro trimestre de 2018 cresceu 0,4% ante o quarto trimestre de 2017.
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“Os dados do primeiro trimestre não foram tão bons, mas não foram tão ruins também”, avaliou o economista Silvio Campos Neto, da Tendências. “O PIB cresceu 0,4%, após ter crescido 0,2% no quarto trimestre de 2017. Houve aceleração.” Para ele, a piora das condições financeiras no País, com reflexos na alta do dólar, e a greve dos caminhoneiros tornaram inevitável o ajuste nas projeções.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, avaliou que “o impacto da greve é no curto prazo”. Segundo ele, a instituição vai acompanhar os efeitos nos próximos meses para avaliar os reais efeitos sobre a atividade e sobre a própria inflação. “Temos de ver como (os choques) vão repercutir na economia brasileira.”
Para Viana, é cedo para avaliar o impacto da paralisação na economia. “A ideia é que o efeito principal seja temporário, de baixa para a atividade e de alta para a inflação”, disse.
No RTI, o BC reforçou suas mensagens mais recentes a respeito da Selic (a taxa básica de juros), atualmente em 6,50% ao ano. “A sinalização é a mesma do comunicado e da ata do Copom (Comitê de Política Monetária)”, afirmou Golddfajn. “Não achamos que o momento é de indicação futura devido à incerteza na conjuntura.”
Na prática, devido às incertezas sobre o efeito do dólar na inflação e sobre a recuperação da economia, o BC preferiu deixar a porta aberta tanto para manter a Selic no atual patamar quanto para elevá-la, se necessário. A próxima decisão do Copom sobre a taxa será em agosto.
Ipea. Assim como o Banco Central, que reduziu sua expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,6% para 1,6% em 2018, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também refez suas contas. O Ipea prevê um avanço de 1,7% no PIB brasileiro este ano, seguido de crescimento de 3,0% em 2019. Os dados foram revistos para baixo, após a deterioração do cenário externo e doméstico. Na divulgação anterior, realizada em março, a expectativa do Ipea para o PIB de 2018 era de uma expansão de 3,0%.
“Já diminuiríamos por conta da surpresa do primeiro trimestre, que veio mais lento do que a gente imaginava. As duas mudanças combinadas, tanto do cenário externo quanto interno, geraram uma revisão maior”, explicou José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
As estimativas para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB), também foram reduzidas. A previsão em março era de que a FBCF registrasse elevação de 4,5% em 2018, mas a expectativa agora é que cresça 3,6%. Para 2019, a FBCF deve aumentar 4,2%.
“O segundo trimestre foi comprometido pela greve dos caminhoneiros. Só isso já tem potencial para reduzir a média do PIB este ano. Mas existem também efeitos indiretos, como o agravamento das incertezas internas, que pode levar a uma posição mais conservadora dos agentes econômicos, tanto investidores quanto consumidores”, disse Souza Júnior.
Segundo ele, a ampliação dos saques do PIS/Pasep, sancionada este mês pelo presidente Michel Temer, tem potencial para impulsionar a atividade no terceiro trimestre semelhante ao que aconteceu com a liberação, no ano passado, das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O governo calcula que R$ 39 bilhões serão injetados na economia. A retirada era possível apenas em caso de aposentadoria ou para trabalhadores com mais de 60 anos, mas foi estendida a todos que trabalharam entre 1971 e 1988. “É algo que pode ajudar na retomada no terceiro trimestre”, avaliou o diretor do Ipea./ COLABOROU MARIA REGINA SILVA
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