12 de março de 2021 | 10h00
O Banco do Brasil já pregou avisos de fechamento nas portas de pelo menos 160 unidades de sua rede, considerando agências tradicionais e postos de atendimento, segundo mapeamento preliminar feito pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Finaceiro (Contraf) e obtido pelo Estadão/Broadcast. Apesar da crise gerada no Palácio do Planalto, o plano de reestruturação, anunciado em janeiro, não só foi mantido como já começa a ser implementado.
A lista oficial das agências que serão fechadas - em um total de 112 -, porém, ainda não foi divulgada pelo BB. Segundo o secretário-geral da Contraf, Gustavo Tabatinga, funcionário do banco, o conglomerado se nega a passar aos funcionários as unidades que serão encerradas, postura que ele afirma ser inédita. "O banco alega questões de mercado, mas, em todas as reestruturações feitas no passado, o banco nos passava essas informações, até para que possamos orientar os trabalhadores", disse o sindicalista, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Diante da negativa do BB, os bancários se mobilizaram e começaram a mapear, por conta própria, as agências e os postos de atendimento que já estavam em processo de encerramento. Para isso, foram de unidade em unidade para verificar quais delas já contavam com o cartaz que avisa do fechamento aos clientes, uma obrigação que o banco tem de cumprir 30 dias antes do encerramento de fato.
O levantamento é considerado preliminar porque a Contraf não tem presença em todos os municípios onde o BB tem alguma unidade. O número, portanto, pode ser maior.
O plano do BB envolve a desativação de 361 unidades ao longo do primeiro semestre, sendo 112 agências tradicionais, sete escritórios e 242 postos de atendimento. Além disso, haverá a conversão de 243 agências em postos de atendimento e oito postos de atendimento em agências, transformação de 145 unidades de negócios em Lojas BB, sem guichês de caixa, relocalização compartilhada de 85 unidades de negócios e criação de 28 unidades de negócios (14 agências especializadas agro e 14 "escritórios digitais leves").
Pelo mapeamento do Contraf, a região mais afetada será a Nordeste, com 60 unidades com cartazes já colados. O Estado com maior número de encerramentos em andamento, por enquanto, é São Paulo, com 17, seguido do Rio de Janeiro, com 14, e o Pará, com 13.
"Fechar agências numa pandemia é jogar as pessoas para a aglomeração e exclusão bancária. Há agências que estão em cidades que só têm aquela agência e vão ficar sem banco", afirma Juvandia Moreira, presidente da Contraf.
Segundo o levantamento, 23 municípios ficarão sem nenhuma agência tradicional do BB, a maioria no Nordeste: seis na Bahia (Caem, Gentil do Ouro, Itaquera, Lajedo do Tabocal, Pau Brasil e Uibai), quatro em Sergipe (Nossa Senhora de Lourdes, Monte Alegre, Pacatuba e Tomar de Geru), duas no Ceará (Santo Antônio do Jaguaribe e Itaiçaba), uma em Alagoas (Passo do Camaragibe) e uma na Paraíba (Alagoa Grande).
Também ficarão órfãos cinco municípios do Pará (Água Azul do Norte, Curuca, Monte Dourado, Ourem e Ourilândia do Norte), um no Acre (Mâncio Lima), um no Mato Grosso (Ribeirão Cascalheira), um no Paraná (Laranjal) e um em Rondônia (Alto Alegre dos Parecis).
De acordo com Tabatinga, da Contraf, já há uma chiadeira nesses municípios por parte de políticos e da população. "Quando um município recebe uma agência, é visto como uma conquista, porque o cidadão deixa de precisar ir a um município vizinho. Então, ninguém quer abrir mão. Já tem um monte de audiência pública marcada em câmaras municipais", conta.
O banco tem afirmado, contudo, que os municípios que ficarem sem agências tradicionais do BB terão pelo menos um posto de atendimento ou um correspondente bancário. Em fevereiro, o banco contava com 4.389 agências, de acordo com dados compilados pelo Banco Central (BC) e atualizados mensalmente. "Estamos em 4.883 municípios. Após o plano, estaremos presentes em 4.883 municípios. Nenhum município será desassistido", disse o presidente do BB, André Brandão, em recente conversa com a imprensa sobre os resultados do banco.
Procurado para falar sobre o mapeamento feito pela Contraf, o BB não comentou.
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12 de março de 2021 | 10h00
Os cinco maiores bancos brasileiros, com quase R$ 8 trilhões de ativos em mãos, precisam enxugar 30% de sua rede de agências físicas em no máximo três anos, aponta estudo exclusivo feito pela consultoria alemã Roland Berger e obtido pelo Estadão/Broadcast. Isso significa fechar as portas de cerca de 5 mil unidades de alvenaria, de um total de 16.704, somados Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil e Caixa Econômica Federal, conforme dados do Banco Central do fim de fevereiro.
O fechamento de agências resulta da pressão por corte de custos e eficiência diante do 'novo normal' do sistema financeiro, de acordo com a Roland Berger. Se antes essa já era uma realidade com a multiplicação de fintechs, com a pandemia, que acelerou o processo de digitalização dos brasileiros, só fez crescer.
Após fechamento de 1.375 agências em 2020, grandes bancos falam em diminuir cortes neste ano
"Os bancos brasileiros vão precisar encerrar pelo menos 30% de suas agências no curto prazo, no máximo, em dois anos. Estamos falando de 5 mil agências dos 5 maiores bancos", afirma o presidente da consultoria alemã Roland Berger, Antônio Bernardo, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
De acordo com ele, a mudança de comportamento dos clientes a reboque da covid-19 coloca a rentabilidade dos bancos brasileiros, ainda elevada frente aos pares internacionais, na berlinda. O retorno sob o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) já foi afetado com o aumento das provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, reforçadas para fazer frente à inadimplência.
Apesar disso, a rentabilidade dos bancos brasileiros ainda é considerada elevada, na visão da Roland Berger. "Se os bancos brasileiros não se transformarem - e as agências são só uma das mudanças -, a rentabilidade vai baixar mais, ficando menos atrativos para investidores", diz Bernardo.
Nesse sentido, a busca por eficiência no universo bancário, segundo a consultoria alemã, não consiste em apenas cortar custos e despesas, com o fechamento de agências bancárias. A Roland Berger vê a necessidade de uma reestruturação completa da dinâmica do relacionamento com os clientes.
"A pandemia mudou muito o comportamento de compra dos clientes. Na realidade, o que a gente vê são clientes muito mais digitais. Os bancos, especialmente os grandes, têm de fazer em seis meses o que pensavam em 6 anos", avalia o presidente da consultoria alemã Roland Berger, Antônio Bernardo, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Para o especialista, a comparação internacional mostra que as estruturas de agências no Brasil têm muito espaço para otimização. Para se ter ideia, o Bradesco tem mais da metade do número de agências do BNP Paribas, maior banco da União Europeia, conforme a consultoria.
Esse processo no Brasil muda, porém, de um banco para o outro. O Santander Brasil, por exemplo, tem menos agências que seus rivais. Somava 2.710 unidades físicas ao fim de fevereiro, ante 3.391 do Bradesco, segundo o BC. O próprio presidente do espanhol, Sergio Rial, diz que o banco não é um "tema de infraestrutura física" no Brasil.
Os bancos já têm capitaneado uma repaginação de suas agências no País, em um processo que vai da redução de algumas unidades à especialização de outras, com foco em segmentos específicos. Esse movimento, contudo, ainda é muito lento, na opinião de Bernardo, da Roland Berger. Não é só o fechamento, diz, mas a transformação da rede de alvenaria, que terá de ter unidades grandes, no estilo de lojas da Apple, automáticas, e outras com uma pegada mais de consultoria, voltada a investimentos, créditos mais complexos.
"A gente vê esse movimento bem lento. Na realidade, poderia ser um pouco mais acelerado e sempre sob a ótica da omnicalidade [integração de todos os canais de contato disponíveis]", afirma. "Não interessa onde o cliente é atendido. Ele sempre tem de ser atendido da mesma forma".
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