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Banco não regulados operam à sombra do sistema chinês

Instituições são credoras de estatais e de governos subnacionais; municípios devem mais de US$ 2 trilhões

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

PEQUIM - Empresas estatais e mistas, governos locais e poupadores buscam hoje em instituições não reguladas empréstimos e remunerações mais atraentes, não oferecidos pelos bancos oficiais chineses. Parte significante da economia do país se deve a fundos de investimentos e companhias de crédito que atuam à margem do sistema formal. Surgidas no fim da década passada, essas firmas são conhecidas como “shadow banks” - bancos da sombra.

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O Banco Central da China estudava em março a intervenção na companhia imobiliária Xingrun, estatal da província de Zhejiang. A empresa devia US$ 566 milhões a bancos da sombra. Também agira em janeiro para salvar diretamente um shadow bank e, assim, evitar maior contaminação do mercado. Em outros casos, como o calote de 140 milhões de yuans (R$ 50 milhões) em um dos produtos do banco estatal Hua Xia em 2013 - quando os investidores tiveram de fazer piquete para receber o valor depositado - sem os juros apregoados.

Os shadow banks movimentam cerca de 33 trilhões de yuans, segundo Roberto Dumas, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). A cifra equivale a R$ 11,8 bilhões, a metade do volume operado pelos bancos oficiais.

Poupadores protestam na porta de banco suspeito de quebra Foto: CARLOS BARRIA/REUTERS

Os bancos da sombra têm alavancado projetos imobiliários de grande magnitude, como a construção de bairros e cidades inteiras, cujas unidades residenciais e comerciais são vendidas a famílias ansiosas por um investimento supostamente mais rentável. Muitas cidades novas, porém, continuam sem habitantes, enquanto os preços dos imóveis nas megalópoles se mantêm elevados. Os bancos da sombra igualmente concedem empréstimos, com taxas de juros mais altas do que as oferecidas pelos bancos oficiais, e acolhem investimentos com remuneração mais atraente. Mas sem oferecer garantias.

Para o economista Miguel Daoud, especialista em China, o sistema financeiro “não evoluído” traz o maior risco para os planos econômicos do governo. Além da ação dos shadow banks, o país não permite a oferta de mecanismos de proteção (hedge) e não desenvolveu um mercado futuro de ações nem um mercado de derivativo de commodities. “A China, nesse campo, é uma Rússia piorada”, resume.

Roberto Dumas não acredita na possibilidade de quebra desse sistema paralelo nem de estouro da bolha imobiliária. “Qualquer que seja o rombo, será coberto pelos impostos e pela poupança dos cidadãos chineses.”

O sistema paralelo, explicou ele, é o resultado da repressão financeira vigente no país, o mesmo que permite a transferência de renda das famílias para as estatais e os governos subnacionais. Os bancos formais funcionam como braço fiscal do governo.

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Na China, essas instituições não podem remunerar os investimentos de famílias e empresas a taxa anual superior a 3,3% - pouco acima da inflação, de 3% ao ano. Ao mesmo tempo, são obrigados a conceder empréstimos a taxas de juros baixas para as estatais e os governos locais e provinciais, hoje altamente endividados. A dívida dos municípios foi estimada em US$ 2 trilhões em 2012, segundo relatório do Congressional Research Service, de Washington.

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