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Banco ruim (2)

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Por Celso Ming
Atualização:

Apenas em janeiro, os Estados Unidos fecharam quase 600 mil postos de trabalho, o pior balanço desde 1974. O presidente Barack Obama considerou "desastrosos" esses números e pediu que o Congresso sacuda sua paralisia e comece a agir. Parece ser inevitável agora não só a aprovação do chamado pacote Obama (de US$ 800 milhões, segundo acordo fechado na sexta-feira), mas também a instituição de solução definitiva para o problema dos bancos, que está trancando o crédito, derrubando a atividade econômica e semeando desemprego. Na edição de ontem, esta coluna falou das primeiras duas soluções praticadas pelos governos dos países ricos. A primeira é a opção Paulson (do ex- secretário do Tesouro dos Estados Unidos Henry Paulson), cujo pacote de US$ 700 bilhões, aprovado em outubro, previa a compra de ativos podres dos bancos. A segunda é o plano Brown, do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que levou à capitalização dos bancos, exigindo certa estatização do sistema. A terceira opção, em exame pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, é rachar os bancos em duas partes. O "banco ruim" (bad bank) ficaria com o lixo financeiro e seria assumido pelo Tesouro. E o "banco bom" (good bank) ficaria com ativos saudáveis e continuaria administrado pelos bancos assim saneados. O pressuposto é de que, enfim curado, o mercado financeiro não teria mais razões por que deixar de confiar em banco. Assim, o crédito se restabeleceria e a economia real poderia voltar a funcionar. O formato final dessa ideia não está claro. Na essência não parece muito diferente do nosso Proer, inventado no governo Fernando Henrique para resgatar a parte boa dos bancos e entregá-la a outros bancos. O simples fato de o Tesouro assumir ativos podres contribuiria para a recuperação do seu valor de mercado. Mas continuaria sem solução a questão do preço: quanto pagar pelos ativos podres do banco ruim? Ou, perguntado de outro modo: é justo pagar preços inflados por essas porcarias? Em todo caso, a administração Obama parece entender que essa operação não sairia por menos de US$ 1 trilhão. Não há o que chegue... A proposta é polêmica e suscita disparatadas opiniões. Quinta-feira, por exemplo, o FMI sugeriu que ela fosse "seriamente considerada" pelos enormes benefícios que traria à economia. Dias antes, o financista George Soros avisou que isso dificilmente funcionaria. E a solução não poderia ser adotada só nos EUA; teria de ser global - porque além dos demais bancões de outras nacionalidades, seria preciso limpar os bancos americanos também nas suas operações externas. Como fazer isso e, ao mesmo tempo, evitar novas fraudes? Imagine-se o que não poderia ser empurrado para a barriga de um banco podre. Mesmo com todas as dúvidas e dezenas de questões à procura de resposta, os mercados vão agora pressionar pela adoção da ideia ou de coisa parecida. Apesar de terem sido considerados "desastrosos", os números que acusaram forte deterioração do emprego nos EUA levaram os mercados a comemorar. Entenderam que a proposta do "banco ruim" ficou inevitável, não importando os trilhõezinhos a mais que o Tesouro americano terá de arrumar.

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