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Banco usado por Cunha na Suíça diz que reforçou controles depois da Lava Jato

Julius Baer garante que modificou seu sistema de controle para evitar que, no futuro, a identificação de clientes problemáticos seja realizada de forma mais eficiente

Por Jamil Chade
Atualização:

GENEBRA - O Julius Baer, banco usado pelo deputado Eduardo Cunha na Suíça, garante que modificou seu sistema de controle para evitar que, no futuro, a identificação de clientes problemáticos seja realizada de forma mais eficiente. Em uma entrevista publicada neste domingo, o CEO do banco, Boris Collardi, apontou que os escândalos como o da Petrobrás e mesmo da Fifa não podem voltar a ocorrer. "Na condição de um banco ativo globalmente, existe um certo risco", disse Collardi ao jornal Schweiz am Sonntag ao ser questionado sobre seu envolvimento em transferências de dinheiro oriundo da corrupção. No caso da Petrobrás e da Fifa, porém, ele garante que "colabora com as autoridades para esclarecer os fatos e comportamentos" das pessoas implicadas. 

Cunha (PMDB-RJ) mantém contas no valor de US$ 2,4 milhões no banco Foto: Dida Sampaio|Estadão

"A Petrobrás é um caso complexo", disse. "Estamos falando de uma das maiores produtoras de petróleo do mundo, mostrando interesse com muitos parceiros pelo mundo", explicou. "O fato de um executivo nos deixar uma fortuna de 2 milhões de francos suíços para que administremos não é suspeito por si mesmo", disse. "Mas se surge o fato de que um ator é corrupto, precisa-se determinar em qual contexto os controles de due dilligence deveriam ser reorganizados", admitiu o executivo.  "Olhamos a esse contexto e também no papel de gestores independentes de ativos, de onde muitos desses ativos vieram", explicou. Esses operadores foram amplamente mencionados nos processos no Brasil.  "Administradores externos são parceiros de negócios que tem um papel específico, diante dos clientes. Hoje, estabelecemos processos com claras exigências e uma cooperação regulada", garantiu Collardi. O Julius Baer foi uma das principais instituições financeiras citadas em acordos de delação premiada na Operação Lava Jato.  No Brasil, o banco é citado em diversas suspeitas sobre depósitos de propinas e hoje tem diversas contas bloqueadas. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, mantém contas no valor de US$ 2,4 milhões.  Quem também era cliente do Julius Baer era o ex-gerente Executivo de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco. Em março de 2014, suas contas foram bloqueadas. Barusco, assim como Cunha, criou empresas off shore para tentar esconder o dinheiro. Em 2013, Barusco abriu uma conta em nome de uma empresa de fachada, a Canyon Biew, no banco RBC da Suíça e transferiu do Julius Baer cerca de US$ 7,1 milhões. Barusco ainda indicou que, para a abertura das contas na Suíça, utilizou os serviços do mesmo intermediário que ajudou Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás e que tem US$ 23 milhões bloqueados nos bancos suíços. O intermediário era Bernardo Friburghaus, com escritórios no Rio de Janeiro e que desde a eclosão da operação se mudou para Genebra.   Os ex-diretores da petroleira Renato Duque e Jorge Zelada também contrataram o banco Julius Baer para investir propina recebida de fornecedores da Petrobrás em Mônaco e na Suíça.    Em Berna, fontes confirmam que o banco Julius Baer está colaborando e que foi do banco que veio em abril um informe apontando para suspeitas de lavagem de dinheiro sobre Cunha.  Nos EUA, porém, o banco é uma das instituições financeiras suíças processadas por ajudar clientes americanos a retirar dinheiro do país e abrir contas secretas em Genebra ou Zurique. O banco, para evitar multas ainda maiores, anunciou que chegou a um "acordo de princípios" com a Procuradoria-Geral de Nova Iorque e que isso envolve uma "solução compreensível" do caso. 

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