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Bancos aumentam taxas do crédito imobiliário e encerram era dos juros 'superbaixos'

Maiores bancos privados subiram taxas entre 0,5 e 1 ponto porcentual, elevando a taxa média para perto de 8% ao ano e encarecendo as parcelas dos novos contratos

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

Depois de uma longa temporada de corrida dos bancos para baixar os juros do crédito imobiliário, o ciclo se inverteu. As instituições financeiras agora estão subindo as taxas dos novos contratos de financiamento, com a previsão de momentos mais difíceis para a economia brasileira.

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Os maiores bancos privados do Brasil - Santander, Bradesco e Itaú Unibanco - decidiram aumentar as taxas cobradas no crédito imobiliário em cerca de 0,5 a 1,0 ponto porcentual, chegando perto de 8% ao ano.

A taxa média de juros dos financiamentos estava no patamar mais baixo da história do setor, em torno de 7% ao ano. Até uns anos atrás, a média girava em torno de 9% a 10%, o que reduzia consideravelmente o poder de compra da população.

A Caixa Econômica Federal - dona de dois terços do mercado de crédito imobiliário - e o Banco do Brasil também devem fazer movimentos na mesma direção, mas ainda não se manifestaram sobre o assunto.

A elevação dos juros do financiamento vai encarecer a parcela paga pelos mutuários em até 9%, aproximadamente. Um empréstimo de R$ 300 mil com prazo de pagamento de 360 meses no sistema de amortização constante (SAC) gerava uma parcela de R$ 2.529,57, com a taxa de 7% ao ano vigente até aqui. A partir de agora, essa parcela subirá para R$ 2.646,81 com taxa de 7,5% ao ano, ou R$ 2.763,54 com a taxa de 8% ao ano.

Alta dos juros já era prevista

A elevação dos juros para a compra da casa própria já era esperada, uma vez que os bancos acompanham o ciclo de alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, que serve de referência para remuneração das cadernetas de poupança. Estas, por sua vez, são as fontes de recursos dos bancos para os financiamentos imobiliários.

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Com a queda da Selic para os menores patamares da história nos últimos trimestres, os bancos também correram para cortar os juros dos financiamentos e atrair mais clientes. Agora esse movimento se inverteu. A maior parte do mercado espera que o Banco Central (BC) acelere o ritmo de elevação dos juros na reunião do Copom desta quarta-feira, 4. De 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 44 (86%) preveem aumento da Selic em 1 ponto porcentual, de 4,25% para 5,25% ao ano. As 7 demais (14%) apostam em alta de 0,75 ponto porcentual.

De modo geral, a estagnação das vendas vem da diminuição do poder de compra dos consumidores, que viram os preços dos imóveis na planta subir Foto: Werther Santana/Estadão - 21/6/2021

As instituições financeiras também acompanham as taxas de juros futuros, que embicaram para cima, por conta de vários fatores que enfraqueceram a economia, desde a inflação alta até as incertezas provocadas pela política nacional.

"Essa alta nas taxas é um movimento natural de mercado já esperado", afirmou o diretor sênior de agência de classificação de risco Fitch Ratings, Cláudio Gallina. "Se tem aumento da Selic, sobe o custo de captação para os bancos. Então eles têm que reprecificar as suas operações de crédito."

Como o crédito imobiliário é um financiamento de longo prazo - e a expectativa é de alta nas taxas -, o setor todo se posiciona nessa direção. "O ambiente no Brasil sugere para juros futuros maiores do que o atual por diversas questões", afirma o diretor de crédito imobiliário do Santander Brasil, Sandro Gamba. 

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O banco foi o primeiro a subir os juros imobiliários, no começo de julho. "Sempre nos posicionamos de forma a antecipar os movimentos de mercado e tínhamos razão", afirma. "Tanto que, na sequência, outros bancos fizeram o mesmo."

Mercado imobiliário

As vendas de imóveis surfaram a onda dos juros baixos e agora devem ter alguma desaceleração. Mas o efeito não deve ter impacto tão grande para o setor, na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. Isso porque os juros ainda continuarão abaixo da média histórica - o que ajudará a manter o mercado aquecido por mais algum tempo.

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"Esse aumento anunciado pelos bancos não deve ter grande impacto para as vendas de imóveis. No passado, vivemos com taxa superiores a isso e mesmo assim o mercado cresceu", diz. Segundo França, enquanto a Selic ficar abaixo de dois dígitos, os juros cobrados pelos bancos tendem a sustentar as vendas em patamares ainda saudáveis.

Novas taxas no mercado

O Itaú Unibanco decidiu aumentar a taxa de 6,9% ao ano + TR para 7,3% ao ano + TR. A medida valerá a partir desta quinta-feira, 5. O banco também anunciou redução do juro em outra linha de crédito imobiliário, que é corrigida pela caderneta de poupança em vez da TR. Com o indexador subindo, o banco baixou os juros de 3,95% ao ano para 3,45% ao ano.

O Santander Brasil passou os juros de 6,99% ao ano + TR para 7,99% ao ano mais TR nos novos contratos desde o começo de julho.

O Bradesco passou de 6,9% + TR para 7,1% + TR ou 7,3% + TR, dependendo do nível de relacionamento.

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