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Bancos brasileiros ampliam território em Portugal em plena pandemia

Instituições são atraídas pelo número crescente de famílias ricas que vão para o país e pelas mudanças que podem vir com o Brexit; além de Itaú e BTG Pactual, que já têm unidades abertas, a XP se prepara para atuar em Portugal em breve

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Por Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

Grandes bancos brasileiros reforçaram a presença em Portugal nos últimos meses, seguindo planos já traçados, a despeito das restrições impostas pela pandemia. Essas instituições têm sido atraídas pelo número crescente de famílias ricas, cujo volume de ativos tem potencial de dobrar nos próximos anos, e ainda o Brexit, como é chamada a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), com a necessidade de uma praça para transferir recursos de Londres, seguindo o caminho já trilhado por pesos pesados de Wall Street.

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Estimado em torno de R$ 15 bilhões, o mercado português de private banking (voltado para clientes de alta renda) tem potencial de dobrar de tamanho em até quatro anos, de acordo com o presidente da consultoria alemã Roland Berger, Antônio Bernardo. "Tem uma comunidade de brasileiros com volume de ativos muito elevado em Portugal. Há uma grande oportunidade para os bancos brasileiros acompanharem seus clientes", disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Recentemente, Itaú Unibanco e o BTG Pactual reforçaram a presença do setor em Portugal, seguindo o rastro do dinheiro de seus clientes. A XP, que caminha para se tornar uma banco completo, aguarda aval do órgão regulador para iniciar sua operação.

Itaú é o maior banco da América Latina Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Na mira dessas instituições, há cerca de mil famílias brasileiras com ao menos R$ 5 milhões em investimentos e residindo em Portugal - e esse número não para de crescer, de acordo com cálculos de executivos ouvidos pelo Estadão/Broadcast. O seleto grupo incluiria ainda aquelas mais abastadas, embora seja uma fatia pequena, de menos de 5%, com no mínimo R$ 200 milhões em mãos.

As expectativas positivas para o mercado de private banking português, além do Brexit, motivaram o Itaú a reabrir um banco em Portugal. A instituição já estava lá, onde chegou em 1994 com o antigo Itaú Europa, mas acabou transferindo as operações para Londres em 2013 por causa da crise econômica.

"A reabertura do banco em Portugal está alinhada à consolidação da nossa operação na Europa. O foco é manter proximidade junto aos clientes corporativos e de private banking", diz o diretor do Itaú Private Bank em Portugal, Luiz Estrada.

A unidade de Lisboa foi reforçada e hoje reúne em torno de 100 pessoas. O foco são investidores de alta renda, enquanto a de Londres dá suporte ao segmento corporativo. O banco do Itaú em Portugal também poderá ampliar seu escopo e receber ativos do Reino Unido, caso britânicos e europeus não fechem um acordo em torno do Brexit. O cenário base da instituição, ao menos até aqui, é de que haverá um pacto comercial entre as partes.

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A XP deve começar a operar oficialmente em Portugal em breve, onde já está com "pé de entrada", nas palavras do responsável pela expansão do grupo na Europa, Otávio Mesquita. Ele desembarcou por lá com a família em agosto, em plena pandemia, para liderar o escritório local. "Foi uma aventura", diz, mencionando a mudança com duas filhas, uma de 7 e outra de 2 anos.

Enquanto espera a autorização do regulador português, a XP termina de formar o time local. O escritório tem capacidade para 14 pessoas. Assim como já bate de frente com os bancos no Brasil, a corretora quer entrar na disputa pela gestão de fortunas de brasileiros em Portugal. "A gente esbarra numa oferta de bancos brasileiros, mas nossa proposta consegue ser vista numa ótica com mais exclusividade e independência", garante Mesquita.

O Bradesco, que vinha monitorando o mercado português, ainda não se decidiu se desembarca ou não em terras lusitanas, diz uma fonte, na condição de anonimato. Presente em Londres e em Luxemburgo, o banco também está de olho na disputa dos brasileiros ricos. Por ora, contudo, o foco do Bradesco no contexto internacional, explica a fonte, é a conclusão da compra do BAC Florida Bank, nos Estados Unidos, após receber o último aval que faltava para a transição, por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), no início do mês.

A continuidade da migração dos clientes brasileiros para Portugal, embora menos intensa que em outros anos, mantém vivo o interesse no mercado de private banking local, que conta ainda com os bancos internacionais como Credit Suisse, Julius Baer e JP Morgan na disputa. "Portugal está crescendo como uma plataforma de private banking. Muitos brasileiros também têm ativos na Europa, Suíça e Luxemburgo. Portugal está tentando atrair parte desses ativos", diz Bernardo, da Roland Berger.

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Vistos

Atraídos pela facilidade do idioma, dentre outras questões, o fluxo de brasileiros para Portugal se manteve em 2020 a despeito da pandemia e seus reflexos no câmbio, com o real em desvantagem frente às principais divisas globais. De janeiro a setembro, foram emitidos 110 vistos para brasileiros ante 210 em todo o ano passado, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de Portugal.

O potencial vai além. Nessa conta, não entram, por exemplo, brasileiros com passaporte português, que não precisam de autorização do governo para residir no país. "A demanda continuou. As pessoas que, por conta da quarentena, não vieram, mantiveram as discussões sobre a mudança para Portugal. Em maio, já vimos novos clientes chegando e esse movimento se intensificou em agosto, com o verão europeu", conta Estrada, do Itaú.

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Por ora, contudo, os bancos brasileiros ainda não têm avançado sobre o varejo bancário português. Interesse, diz uma fonte baseada em Zurique, na Suíça, não falta. Nos últimos cinco anos, a população de brasileiros em Portugal quase dobrou. Ao fim de 2019, eram mais de 151 mil, conforme o SEF. É a segunda maior população estrangeira no país, atrás somente da europeia.

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