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Bancos mais tranquilos com acordo. Itália ainda preocupa

Recapitalização obrigatória dos bancos ainda não é suficiente para acabar com as dívidas do mercado, que teme a situação da Itália

Por JACK e EWING
Atualização:

ArtigoOs bancos europeus podem recuperar parte da confiança com um plano que os convenceria a se armarem para um declínio acentuado no valor da dívida grega. A recapitalização obrigatória foi um dos principais feitos da reunião de cúpula entre líderes europeus que avançou madrugada adentro na quinta-feira em Bruxelas. Mas ela não será suficiente para acabar com as dúvidas em relação à capacidade dos bancos de arcar com suas dívidas nem de restaurar seu acesso aos mercados monetários internacionais, disseram os analistas.O grande problema é que a Itália, com sua política disfuncional e quase 2 trilhões (cerca de US$ 2,8 trilhões) em dívidas, suplantou a Grécia como maior ameaça aos bancos europeus e maior fonte de ansiedade entre os investidores. Se a Itália enfrentasse dificuldades no pagamento dos encargos da dívida, não haveria capital fresco suficiente para proteger o sistema bancário europeu. "Tudo depende da Itália", disse Lüder Gerken, diretor do Centro de Políticas Europeias em Freiburg, Alemanha. "Se a Itália falir, uma recapitalização não vai nos salvar." "A Itália precisa promover reformas fundamentais", acrescentou ele. Caso contrário, "o euro não vai sobreviver".Como a maior parte das medidas que partiram da reunião em Bruxelas, o plano para reforçar os bancos foi visto como algo positivo, mas insuficiente.As medidas começam a tratar da fragilidade do sistema bancário europeu, um dos elementos centrais da crise. Os bancos do velho continente costumam manter reservas inferiores a seus equivalentes americanos, algo que faz deles menos estáveis quando se torna necessário absorver perdas provenientes dos investimentos em obrigações do governo e outros ativos problemáticos.Como resultado, muitos bancos europeus foram isolados dos recursos dos mercados monetários americanos e de outros emprestadores atacadistas, passando a depender de recursos emergenciais do Banco Central Europeu. O plano de recapitalização levaria 70 bancos europeus a arrecadar cerca de 106 bilhões até meados de 2012, de acordo com a Autoridade Bancária Europeia, que vai supervisionar a operação. Será exigido deles que mantenham reservas equivalentes a 9% do dinheiro investido em ativos arriscados. E os bancos terão também de reconhecer as perdas do mercado nos títulos do governo.Os bancos também receberão garantias do governo, que se comprometeria a ajudá-los a emitir obrigações de períodos mais longos. Analistas disseram que as garantias eram um dos aspectos mais positivos do plano, por dar aos bancos uma fonte de recursos mais estável.Os bancos podem ampliar suas reservas ao manterem seu lucro em caixa, em lugar de distribuí-lo entre os acionistas, ou ao venderem ativos para reduzir sua exposição geral ao risco. Como último recurso, podem se voltar aos governos ou ao fundo de resgate da zona do euro. Mas a maioria fará de tudo para evitar o envolvimento do governo e as restrições à remuneração dos executivos que resultariam desta intervenção.As perdas potenciais com a dívida grega são agora mais fáceis de calcular. Como parte de um acordo com representantes dos bancos e seguradoras, os investidores vão aceitar um corte de 50% no valor nominal das obrigações gregas. Os detalhes ainda não foram esclarecidos, mas pareceu que os credores gregos receberiam algum tipo de garantia para protegê-los de perdas adicionais.Christian Noyer, diretor do banco central francês, disse que os bancos do seu país e de outras partes da Europa podem suportar a perda de 50% sem maiores problemas, ao menos na maioria dos casos. Alguns já contavam com a perda. Ele disse que, embora alguns bancos na Grécia tenham de arrecadar mais capital, os bancos gregos que pertencem ao Société Générale e ao Crédit Agricole não estão entre eles. Como o plano de alívio do endividamento deve ser voluntário, ele não levaria ao pagamento dos prêmios do seguro, conhecidos como swaps de garantias contra calotes (CDS), contratados por investidores para protegê-los de perdas com a dívida grega.Sob certos aspectos, tais swaps se tornaram fonte de temores mais expressiva que a própria dívida. Três anos depois que a AIG precisou de um resgate pago com US$ 182 bilhões em dinheiro do contribuinte americano por causa de seguros emitidos para valores mobiliários lastreados em hipotecas, o mercado dos CDS continua nebuloso. Há poucas informações sobre quais empresas teriam garantido a dívida grega, e o risco de que certos bancos e outras entidades tenham ficado muito expostos.A Associação Internacional de Swaps e Derivativos, árbitra oficial que determina se um evento de crédito ocorreu ou não, disse na quinta-feira que o plano de alívio da dívida grega dificilmente levaria ao pagamento dos prêmios garantidos por seguro.Ainda assim, boa parte da incerteza que prejudicou os bancos europeus continua. As dimensões da recapitalização bancária estão no extremo inferior das expectativas, o que leva alguns a se perguntarem se elas serão grandes o bastante. Os bancos franceses terão de captar cerca de 9 bilhões, e os alemães, cerca de 5 bilhões. Os bancos gregos vão precisar de mais - cerca de 30 bilhões -, seguidos pelos da Espanha e da Itália.Enquanto isso, alguns bancos se queixam de que as somas são altas demais, exigindo que correspondam a padrões regulatórios que só entrariam em vigor no fim da década. Eles se queixam de que não terão escolha, a não ser limitar a concessão de empréstimos e vender ativos a preços baixos para conseguir atender aos critérios de capitalização."Eles querem para daqui a seis meses aquilo que os bancos teriam de conseguir até 2019, e tudo isso num momento em que os mercados de capitais estão fechados", disse Herbert Stepic, diretor executivo do Raiffeisen Bank International, de Viena.Ainda perdura uma profunda inquietude entre os investidores e analistas. "A exposição dos bancos aos ativos gregos não é grande a ponto de criar um risco sistêmico", disse Stephane Deo, chefe de pesquisa econômica europeia a serviço do UBS. "O problema está na possibilidade de um pânico no mercado."

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