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Bancos privados perdem mais com o compulsório

Bancos estatais são menos afetados pela alta dos compulsórios porque usam recursos de fundos públicos, como o FGTS

Por Edna Simão
Atualização:

A recente decisão do Banco Central de elevar os depósitos compulsórios afetou mais os bancos privados do que os estatais. BB e CEF sofrem menos porque uma parte de suas operações de crédito se sustentam com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e depósitos judiciais. Nessas fontes de recursos, consideradas mais baratas, não há incidência do compulsório.

 

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Essa vantagem fica mais evidente com a perspectiva de aumento da taxa Selic e da elevação dos compulsórios pelo BC, que devem encarecer o custo do dinheiro. Hoje, para utilizar esses recursos os bancos pagam pelo menos a rentabilidade da caderneta de poupança, o que corresponde à TR e mais 6% ao ano.

 

Levantamento feito pelo Estado, com base nos balanços, mostra que pelo menos R$ 143 bilhões do FGTS, FAT e depósitos judiciais estavam nas mãos do BB e da Caixa no fim do ano. A Caixa tem R$ 50 bilhões de FGTS e outros R$ 20,8 bilhões de depósitos judiciais. Já o BB tinha R$ 14,8 bilhões de FAT e outros R$ 57,4 bilhões de depósitos judiciais. Esses depósitos chegam a 8% do ativo total do BB.

 

Na Caixa, 70% das operações de crédito são feitas com recursos da caderneta de poupança e do FGTS. Nos bancos privados, esse número corresponde a 30%. No BB, essa proporção é mais parecida com os privados. Mas o BB tem mais de R$ 57 bilhões em depósitos judiciais para usar, fonte de recursos que não está disponível para os concorrentes privados.

 

Os compulsórios só têm impacto semelhante para públicos e privados nos recursos livres - que é dinheiro captado diretamente no mercado financeiro. "Bancos que usam crédito direcionado e o FGTS, como é o caso da Caixa, ficam um pouco mais protegidos", disse o vice-presidente da Caixa, Márcio Percival.

 

Em fevereiro, subiu o valor dos compulsórios que os bancos são obrigados a recolher no BC, retirando R$ 71 bilhões de circulação. Com menos recursos disponíveis, o custo da captação aumentou.

 

Impacto

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Os bancos privados sentiram mais o encarecimento porque suas operações são feitas principalmente com recursos livres. Para o ex-presidente do BC e sócio da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, a vantagem dos bancos públicos faz com que o BC aumente, além do necessário, o compulsório para os privados. "Existe uma política de governo que é aumentar crédito, mas por outro lado o BC restringe o crédito no mercado."

 

Mesmo tendo espaço para atuar na caderneta de poupança, que tem um o custo de captação menor, os bancos privados preferem ampliar os empréstimos com recursos livres, pois podem destinar o dinheiro para a área que quiserem e sem limitação para os juros. "O aumento do compulsório encareceu o crédito livre, o que favorece o banco público", diz Percival, da Caixa. Para ele, apesar de os recursos do FGTS, FAT e depósitos judiciais, serem mais baratos, isso não significa que os bancos oficiais tenham vantagem. Os recursos direcionados, do FAT e FGTS, têm foco específico e a rentabilidade para o banco é baixa.

 

No caso dos depósitos judiciais, os recursos são usados para operação de tesouraria porque não são de longo prazo. "Não posso usar esse dinheiro para créditos de longo prazo. Isso provocaria descasamento entre créditos de longo prazo e de curto prazo.

 

"Para o ex-economista-chefe da Febraban, Roberto Troster, esses recursos proporcionam uma vantagem competitiva. Luis Santacreu, da Austin Rating, diz que" existe um benefício dos bancos públicos, embora todo o sistema seja atingido com a elevação dos compulsórios." 

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