PUBLICIDADE

Bancos públicos têm R$ 6 bilhões para ajudar Petrobrás a reforçar o caixa

Após o rebaixamento da classificação de risco, a Petrobrás deve cortar ainda mais investimentos e acelerar a venda de áreas, até mesmo no pré-sal

Por Fernanda Nunes
Atualização:

RIO - O mercado financeiro castigou ontem a Petrobrás pela perda do selo de grau de investimento da agência de classificação de risco Moody's, anunciada na terça-feira, com um tombo de quase 5% nas ações da estatal. Os reflexos mais perversos, no entanto, recaem sobre os investimentos da Petrobrás, que sofrerão cortes ainda maiores do que o previsto antes do rebaixamento. Além disso, o governo já acenou com uma ajuda para a empresa de até R$ 6 bilhões, segundo fonte da cúpula da companhia, para reforçar a caixa e atravessar o período de turbulência. Os recursos viriam do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Essa foi, até agora, a única alternativa de suporte financeiro proposta pela União à companhia. Uma nova capitalização pelo governo nunca foi discutida no conselho de administração da petroleira, segundo a fonte. A cifra de até R$ 6 bilhões é considerada pelo comando da Petrobrás como o máximo possível de financiamento que a companhia pode pegar sem fazer explodir o nível de alavancagem (relação entre patrimônio e dívida). Esse é um dos itens mais observados por agências de classificação de risco e foi usado como argumento pela Moody's para justificar a perda do grau de investimento da estatal. Venda de áreas. Diante desse cenário, a opção mais viável para reforçar o caixa considerada pela nova diretoria da estatal é acelerar a venda de áreas para a exploração de petróleo, ainda que o momento seja inapropriado, por causa da queda do preço do barril. Para tocar o projeto, a Petrobrás contratou o banco JP Morgan, que está mapeando investidores do mundo todo interessados em adquirir reservas de petróleo sob concessão da petroleira, inclusive no pré-sal. Por causa da desvalorização do petróleo no início do ano, o plano chegou a ser adiado. Mas agora, diante da crise, foi retomado e ganhou status de urgência. Já em janeiro a Petrobrás anunciou que ia colocar o pé no freio em seus gastos para se ajustar às dificuldades financeiras impostas pela Operação Lava Jato, que investiga um esquema corrupção na empresa. Até o ano passado, eram previstos gastos de US$ 220 bilhões de 2014 a 2018, o que significaria US$ 44 bilhões por ano, em média. Com as complicações de caixa, as previsões de orçamento anual encolheram para cerca de US$ 30 bilhões, como projetou a ex-presidente da companhia, Graça Foster, dias antes de renunciar ao cargo, em 4 de fevereiro. E, depois que a Moody's cassou o grau de investimento da companhia, as dificuldades financeiras foram agravadas. A perspectiva é de que o corte seja ainda maior. Antes da decisão da Moody's, o comando da Petrobrás estava certo de que apenas reduzindo gastos teria caixa suficiente para cumprir as obrigações de 2015. Mas, na terça-feira desta semana, o cenário mudou. Não só as portas de investidores de fundos internacionais se fecharam, como dívidas já contratadas ficaram automaticamente maiores. Os juros das dívidas subiram e as obrigações cresceram. "Sem grau de investimento, os projetos da Petrobrás são inviáveis, por causa do volume de gastos previstos", diz um executivo recém-saído da estatal. Um dos conselheiros da Petrobrás, que não quis se identificar, vai levar à reunião de amanhã a proposta de uso de parte das reservas internacionais de US$ 380,5 bilhões da União na compra de ações da estatal. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) enviou carta à direção da empresa pedindo a retirada da Petrobrás do mercado de ações. Já o banco BTG afirmou, em relatório, que a capitalização da companhia pode ser uma "necessidade". Em nota divulgada ontem à noite, a Petrobrás informou que está adotando medidas para preservar o caixa e reduzir a alavancagem. Também pretende reduzir investimentos e vender mais ativos, além de estudar outras possibilidades de financiamento. / Com Reuters

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.