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Bancos recolhem menos impostos e derrubam receita do governo

Com menos impostos pagos pelas instituições financeiras, arrecadação federal registrou em julho o pior desempenho para o mês desde 2010

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Por Eduardo Rodrigues e Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - Os bancos recolheram menos impostos em julho, o que contribuiu para derrubar a arrecadação de tributos federais. De acordo com dados da Receita Federal divulgados ontem, o total arrecadado no mês passado ficou em R$ 109,948 bilhões, o pior desempenho para o mês desde 2010 e um recuo real – já descontada a inflação - de 0,34% em relação a julho do ano passado.

De janeiro a julho, a arrecadação federal somou R$ 758,533 bilhões. O valor ainda representa uma alta real de 0,61% na comparação com igual período do ano passado, mas esse crescimento tem perdido força. Até junho, era de 0,77%.

O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, Claudemir Malaquias, divulga resultados da arrecadação de tributos federais Foto: Agência Brasil

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O comportamento atípico no pagamento de tributos pelos bancos nos últimos meses tem chamado a atenção do Fisco, que está investigando as causas da redução dos valores recolhidos. Para o chefe de estudos tributários e aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias, esse foi o fator determinante para o fraco desempenho da arrecadação de julho.

O recolhimento do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) do sistema financeiro caiu 18,60% em relação a julho do ano passado, para R$ 18,110 bilhões. “Houve uma perda de R$ 4,139 bilhões nessa comparação”, disse Malaquias. “Ainda estamos investigando a causa.”

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Os bancos pagam esses tributos com base em estimativas para os seus resultados futuros. Por isso, as instituições podem ter antecipado o pagamento de tributos ou estão agora adequando seus recolhimentos a perspectivas menores de lucro. “Só saberemos o resultado real do setor após as instituições realizarem seus ajustes”, afirmou Malaquias. Segundo ele, esse também pode ser um efeito do aumento de provisões para devedores duvidosos e da maior inadimplência.

PIS/Cofins. Outro fator que pode ter pesado para a queda das receitas em julho foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de excluir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da base de cálculo do PIS/Cofins. Na prática, a medida diminui a quantidade de tributos a ser paga pelos contribuintes, mas esse efeito ainda não deveria existir, uma vez que a decisão do STF ainda não foi publicada e, portanto, não produziu os efeitos legais.

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Mesmo assim, Malaquias comentou que muitos contribuintes já estão calculando seus impostos com uma base menor. “Estamos monitorando. Os contribuintes não podem se antecipar, porque a decisão ainda não foi publicada”, disse, enfatizando que a atitude é irregular.

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As perspectivas de alteração no Refis pelo Congresso, com mais benesses para os contribuintes devedores da União, também ajudaram a corroer o resultado do mês. “Isso afeta o comportamento dos contribuintes. Não sabemos o tamanho do efeito, mas é natural que isso retraia a arrecadação. Se você está na iminência de receber uma vantagem lá na frente, por que vai pagar o tributo agora?”, questionou.

Apesar de o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já ter admitido que a adesão ao Refis deve ser prorrogada até 31 de outubro, Malaquias negou que o Fisco já trabalhe com essa possibilidade. Pelo contrário, ele ressaltou que o prazo vigente é o de 31 de agosto. “Não há qualquer prorrogação de prazo. Há uma negociação, mas não tem nada fechado”, afirmou. Até agora, a arrecadação com o Refis ficou em R$ 2,414 bilhões, ante expectativa original de obter R$ 13 bilhões.