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Bancos vendem 30% das carteiras

Pequenas e médias instituições já passaram adiante R$ 22,6 bi em carteiras de crédito para os grandes bancos

Por David Friedlander
Atualização:

A crise de liquidez no mercado financeiro já forçou os bancos pequenos e médios a vender carteiras de crédito no valor total de R$ 22,6 bilhões até a última segunda-feira, segundo informações do Banco Central (BC). Feitas nos últimos dois meses, essas operações mostram que as instituições de menor porte passaram adiante cerca de 30% do total das carteiras de crédito que tinham quando a crise começou - cerca de R$ 76,6 bilhões em setembro, segundo a consultoria Economática. As melhores carteiras foram adquiridas pelo Banco do Brasil (R$ 8,2 bilhões), pelo Bradesco (R$ 6,2 bilhões), pela Caixa Econômica Federal (R$ 2 bilhões) e pelo Santander (R$ 1,3 bilhão). Até o Fundo Garantidor de Crédito, mantido pelo mercado financeiro para reembolsar os correntistas de instituições que vierem a falir, adquiriu operações de mais de 20 bancos, por cerca de R$ 2 bilhões. Procurados, Itaú e Unibanco não responderam. Na sua maioria, as carteiras negociadas envolviam financiamentos de automóveis e crédito consignado (com desconto na folha de pagamento), o filé mignon das pequenas e médias instituições financeiras. "Elas precisaram vender para suprir fonte de captação que deixou de existir num momento de crise. Fizeram isso para reforçar seus caixas", diz o economista João Augusto Salles, da consultoria Lopes Filho e Associados. Nos últimos anos, os pequenos bancos tiveram ganhos recordes inundando o mercado consumidor com crédito barato e de longo prazo. Eles tomavam dinheiro no mercado com prazo médio de 90 dias e concediam financiamentos de até seis anos - no caso de veículos, por exemplo. O sistema funcionou bem enquanto houve fartura de crédito. Quando a crise se agravou, a partir de setembro, a fonte dos bancos pequenos e médios secou. Com problemas de liquidez para manter rodando os financiamentos que tinham concedido, muitos foram forçados a se desfazer de suas melhores operações. "Ao que tudo indica, o pior ficou para trás e o mercado está voltando ao normal", afirma Antônio Carlos Bueno, diretor-executivo do FGC. No mercado, as transações com carteiras de crédito são tratadas com discrição. Quem comprou não conta o nome do banco que vendeu - ou daqueles que ainda desejam fazê-lo - para evitar o risco de comprometer a imagem das instituições com problemas de liquidez. "Tudo indica que houve um problema momentâneo de liquidez. Não vi relatos de problemas de solvência", afirma o professor Alberto Borges Matias, professor da Universidade de São Paulo e sócio do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração. Para comprar as carteiras de crédito, os bancos usaram recursos do compulsório liberado pelo BC em outubro, justamente com essa finalidade. Usaram, também, recursos próprios. Um banqueiro que avaliou cerca de 50 carteiras afirma que, na maioria, as operações são de boa qualidade. "Das 50 que passaram por mim, só vi uma com problemas", diz o banqueiro, que não quis se identificar. Segundo ele, fora essa, só ouviu falar no mercado de uma outra carteira de crédito aparentemente problemática. As melhores operações, diz um advogado envolvido nessas negociações, já trocaram de dono. São os financiamentos de veículos e os consignados. A partir de agora, segundo esse advogado, começa a oferta de carteiras menos atrativas, como financiamento de veículos usados e empréstimos a pequenas e médias empresas.

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