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Basta confiar nos 'índices antecedentes'?

Por MARCO ANTONIO ROCHA
Atualização:

Ao ser entrevistada no Jornal Nacional, na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff preconizou melhoras na economia no segundo semestre. Respondendo ao questionamento de William Bonner a respeito do pífio andamento da economia brasileira há meses - fecho de chumbo, para dizer o mínimo, de um mandato que deixará a economia em estado muito pior do que a recebeu -, ela argumentou que os "índices antecedentes" dizem que haverá melhoria no futuro próximo. Como quase ninguém sabe o que são índices antecedentes, ela se dispensou, com essa resposta vaga, de oferecer alguma ideia do que pretende fazer para melhorar ao menos um pouco o andar da carroça do PIB, pois o que vemos no noticiário todos os dias são índices e indicadores piorando a cada dia. Bem, vejamos: índices antecedentes são aqueles que antecedem, diria o Conselheiro Acácio, o andamento da produção, industrial ou agrícola. Por exemplo, se houver um aumento grande da compra de máquinas e implementos agrícolas, isso indica que os agricultores estão otimistas e o plantio e as colheitas serão maiores. Ou, se houver aumento significativo nos pedidos de caixas de papelão e outros materiais para embalagens, pode-se imaginar que a indústria de transformação em geral, e principalmente a de alimentos, estará prevendo e investindo no aumento das suas próprias vendas. E, se estivermos diante de uma queda das cotações de tradables (produtos comercializados em bolsas de mercadorias internacionais ou em fluxos contínuos de comércio mundial), pode-se contar com maior consumo interno de matérias-primas e de bens importados, com consequente aumento da atividade comercial interna. São indicadores (e não índices) de possível futura melhoria das atividades de negócios em geral. Dilma poderia ter citado concretamente alguns desses indicadores e isso daria maior credibilidade e confiabilidade à sua assertiva de que tudo vai melhorar no futuro próximo. Do jeito que respondeu, falando de índices favoráveis à melhoria da economia, os crentes devem ter considerado que a resposta foi boa, mas os incréus viram apenas uma aposta vazia num futuro melhor, destinada a angariar votos. Agora, quem são os crentes e quem são os incréus num assunto como esse? Os crentes somos nós, pessoas comuns, que temos a tendência de acreditar em que os governantes estão fazendo a coisa certa, estão cuidando direitinho dos negócios de governo e de nós. Os incréus, no caso, e nesse tema, dão suas opiniões e manifestam suas expectativas nas pesquisas levantadas pelas entidades de classe. São os industriais, os comerciantes, os homens do agronegócio, dos transportes, etc. - dirigentes, enfim, do mundo dos negócios, que têm a mão na massa, fazem andar a atual carroça do PIB e cuja função é pôr lenha na caldeira da economia. Nos relatórios das entidades de classe, nas pesquisas de opinião da indústria, do comércio e até dos corretores de imóveis - pessoas bem informadas sobre os índices antecedentes - as expectativas variam entre fracas, ruins e péssimas. Todas formando uma nuvem de pessimismo, ou de otimismo, tão, mas tão moderado que a própria presidente, nos auditórios onde se encontra com estes reais carregadores do andor da economia, fala contra o pessimismo (a seu ver injustificado) que atribui aos adversários e exorta os ouvintes a se animar, a trabalhar mais, a confiar e, principalmente, a investir. (Em tempo: a taxa de investimento privado no Brasil tem caído a níveis abaixo das fases de crises fortes, sem que haja qualquer crise forte.) Tal clima pode resultar das incertezas sobre como será e o que fará o próximo governo - com Dilma ou sem Dilma. Mas, por isso mesmo, a presidente deveria desfiar uma estratégia econômica bem mais confiável do que a dos "índices antecedentes".*Jornalista. E-mail: marcoantonio.rocha@estadao.com

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