Bastidores: Auxiliares de Bolsonaro comemoram 'basta' às ideias da Economia sem aval do presidente

Nesta terça-feira ele disse em vídeo que acabaram as discussões no governo sobre o Renda Brasil e ameaçou com 'cartão vermelho' quem sugerir congelamento de aposentadorias

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Por Jussara Soares e Adriana Fernandes
2 min de leitura

BRASÍLIA - O vídeo do presidente Jair Bolsonaro interditando a discussão do Renda Brasil e ameaçando com "cartão vermelho" quem porventura vier a propor medidas como o congelamento de aposentadorias e pensão foi comemorado no Palácio do Planalto. Auxiliares do presidente gostaram do “basta” presidencial ao que consideram uma prática comum, que é a antecipação de medidas pela área econômica sem o aval de Bolsonaro. 

O presidente publicou no Facebook um vídeo suspendendo o Renda Brasil até o fim do seu mandato e com críticas duras às propostas apresentadas pela sua equipe.

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O assunto, porém, já vinha sendo discutido com alapolítica e lideranças do governo que, inclusive, haviam acenado com a possibilidade de a medida passar “em nome de mais” recursos para os mais vulneráveis do Renda Brasil. O tema da desindexação (retirar a obrigatoriedade de dar reajustes) do salário mínimo era frequente desde o início do governo em falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, e de outros integrantes da equipe econômica. 

Os auxiliares do presidente, no entanto, consideram que ao se tornar públicas, as falas acabam prejudicando a imagem dele e que as discussões deveriam ser internas, dentro do governo, para blindá-lo do desgaste de medidas impopulares que não foram totalmente fechadas.

Nesta terça-feira, 15, com cópias de matéria do Estadão e de outros jornais nas mãos, o presidente mostrou no vídeo grande irritação, mas não chamou de "fake news" (notícias falsas) os textos, como costuma fazer quando é contrariado por reportagens incômodas ao governo e repercussão negativa nas redes sociais.

O Estadão apurou que a irritação maior do presidente é com a equipe do Ministério da Economia e nem tanto com o ministro Paulo Guedes

Bolsonaro disse nesta terça-feira que acabaram as discussões no governo sobre o Renda Brasil. Foto: Marcos Correa/PR

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O movimento do presidente de acabar com o Renda Brasil, segundo técnicos, expõe mais uma vez a enorme dificuldade do governo de encontrar espaço no Orçamento sem ferir de morte o teto de gasto, a regra constitucional que impede o crescimento dos gastos acima da inflação, sem mexer em outros programas e atacar em privilégios.

O compromisso de manter o teto foi assumido em manifesto público no Palácio da Alvorada. Para isso, precisará enfrentar temas espinhosos como o abono salarial e outros programas mal formulados, cujas mudanças foram descartadas pelo próprio presidente. Há dificuldade de o presidente entender que, com o teto, não basta aumentar a receita para viabilizar um programa social mais robusto.

As principais críticas no Planalto são de que a Economia age sem acertar os ponteiros com os demais órgãos e ministérios, muitas vezes contrariando a determinação política do presidente e orientação jurídica do governo. 

Dessa vez, as declarações com detalhes sobre o congelamento dos benefícios partiu do secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, que em entrevista ao site G1 deu apoio ao congelamento dos benefícios previdenciários por dois anos e mudanças no seguro-desemprego.

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