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BB nega pressão do governo, mas libera R$ 13 bi

Banco também reduz juros para vários segmentos do mercado e diz que já estudava medida ''havia meses''

Por Fernando Nakagawa
Atualização:

Em mais uma investida na área do crédito, o Banco do Brasil colocou ontem R$ 13 bilhões em empréstimos pré-aprovados à disposição de 10 milhões de clientes e anunciou a redução dos juros cobrados em empréstimos para pessoas físicas. Os recursos adicionais serão destinados às linhas voltadas ao consumo, como compra de veículos, eletrodomésticos e crédito consignado. A decisão foi tomada após a revisão de critérios de análise de risco para a aprovação dos financiamentos. Segundo o BB, os novos parâmetros são semelhantes aos usados pelos concorrentes e não aumentam o risco de calote. Também foi anunciada a meta de atingir a marca de R$ 100 bilhões em crédito para pessoas físicas em 2012. Em março passado, eram R$ 61 bilhões. Desde ontem, extratos bancários de 10 milhões de clientes do BB - um terço do total - já mostram os novos limites concedidos pela instituição. Foram beneficiadas as pessoas que operam algum empréstimo no banco, têm bom histórico e utilizam boa parte do limite de crédito atualmente oferecido - ou seja, estão perto do limite. Na média, cada cliente teve aumento de 5,25% no valor (o equivalente a R$ 1.300) para tomar emprestado no crédito consignado, para aposentados, compra de veículos, material de construção, eletrodomésticos e empréstimo automático. A medida não atinge operações como cheque especial e cartão de crédito. O vice-presidente de crédito e risco do BB, Ricardo Flores, disse que uma "inovadora metodologia de análise" permitiu oferecer o limite extra. Esse sistema, que leva em conta o histórico de crédito e o comportamento dos clientes, já é largamente usado, segundo ele, pelos bancos privados. Apesar de admitir que o quadro macroeconômico atual "acelerou" a medida, Flores rechaça a ideia de que ela tenha fundo político ou tenha nascido de pressão do governo. "Não há conotação política. Temos autonomia e essa foi uma decisão técnica para ganhar competitividade", disse ele, afirmando que a medida vinha sendo estudada "há meses". Política ou não, a decisão do BB aumenta a oferta de crédito disponível e, assim, dá força para o consumo. Esse roteiro coincide com a estratégia do Palácio do Planalto, que cobra ação mais forte dos bancos públicos nos empréstimos para amenizar os efeitos da crise. Há um mês, quando anunciou que Altemir Bendine iria substituir Antônio Lima Neto na presidência do BB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que esperava que o banco aumentasse o crédito e a reduzisse os juros. Ontem, o BB anunciou a queda dos juros de linhas voltadas ao consumo (leia quadro).Mas os juros do cheque especial e do cartão de crédito não foram alterados. Mesmo com a oferta de mais crédito para quem já está endividado, a diretoria do BB rejeita a avaliação de que a medida possa aumentar a inadimplência da clientela. Segundo Ricardo Flores, a instituição "está tranquila" porque as mudanças não foram pensadas da noite para o dia. "Tudo foi testado", disse. O analista do setor bancário da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, diz que será preciso esperar pelo menos seis meses ou até um ano para verificar se os critérios adotados são adequados. "Em seis meses, um ano, poderemos ver se esse empuxo maior do banco vai ter efeito sobre a inadimplência. Se o plano for exitoso, a inadimplência crescerá pouco.Se a decisão foi tomada de qualquer jeito, na pressa, veremos o número crescer com velocidade", disse. Para ele, é de se esperar algum aumento do nível de calote no BB nos próximos meses. "Sempre que há mudança de critérios de avaliação de risco, admite-se que a inadimplência seja um pouco maior porque há um período de aprendizado, em que o banco vai se acostumar com a nova realidade."

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