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BC abriu mão de meta para não causar retração, diz Fraga

Por Agencia Estado
Atualização:

Para evitar uma forte queda na atividade econômica em 2001, o Banco Central (BC) não utilizou todas as ferramentas possíveis - como a alta da taxa de juros - para manter a inflação dentro da meta estabelecida. Esse é um dos principais pontos da carta enviada pelo presidente do BC, Armínio Fraga, ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, na qual ele fez um apanhado das causas que levaram ao descumprimento e quais são as medidas que estão sendo executadas para que, em 2002, a inflação volte a ficar dentro da meta. Como resultado dessa estratégia, pela primeira vez desde a adoção do sistema em 1999, a meta anual de inflação ficou acima do teto, o que obrigou o presidente do BC a se explicar publicamente. O IPCA fechou 2001 com uma variação de 7,67%, sendo que a meta previa uma inflação de 4% com margem de variação de dois pontos porcentuais, para cima ou para baixo. A carta foi enviada ontem à noite e divulgada hoje. Segundo Fraga, os choques externos e internos que atingiram a economia brasileira foram as razões do descumprimento da meta inflacionária. Do lado externo, ele apontou a desaceleração da economia mundial, o contágio proveniente da crise argentina e os ataques terroristas aos Estados Unidos como os principais fatores determinantes para o descumprimento da meta inflacionária. Na avaliação do presidente do BC, esses choques produziram "forte pressão" na depreciação do real. Pelo lado interno, os principais destaques foram o crescimento "acentuado" dos preços administrados por contrato, principalmente das tarifas de energia elétrica. Fraga argumentou que se o BC tivesse trabalhado para manter, religiosamente, a inflação dentro da meta, os custos, em termos de retração econômica, teriam sido elevados. Diante da perspectiva de que a inflação para 2002 e 2003 estaria dentro da meta, mantidos os parâmetros utilizados pelo BC para calcular suas projeções, o Comitê de Política Monetária (Copom) preferiu abandonar a meta de 2001 e voltar suas atenções para os anos seguintes. Um dos parâmetros utilizados e definidos pelo Copom é manter a taxa de juros em 19% ao ano. Perspectivas - Fraga reforçou em sua carta que a projeção da inflação em 2002 é de 3,7% e de 2,5% para 2003. As estimativas foram feitas supondo que os juros seriam mantidos em 19% ao ano e a taxa de câmbio estável em cerca de R$ 2,35 por dólar. A meta de inflação este ano é de 3,5% e em 2003 de 3,25%. O presidente do BC espera que em 2002 não se repitam, pelo menos na mesma intensidade, os choques que atingiram a economia brasileira no ano passado. Segundo ele, caso isso se confirme, a tendência é de que a inflação fique dentro da meta estabelecida. Baseado nas estimativas do BC, Fraga espera uma queda em 2002 da inflação dos preços administrados e uma trajetória da taxa de câmbio que reflita, segundo ele, a combinação de redução do risco Brasil e menores taxas de juros internacionais. Em 2001, a inflação dos preços administrados foi de 10 4%, puxada principalmente pelo aumento das tarifas de energia elétrica. A desvalorização do real respondeu por 2,9 pontos porcentuais da inflação de 2001, que fechou em 7,67%, de acordo com a variação do IPCA. Segundo Fraga, projeta-se um aumento de 5,2% para os preços administrados este ano. Boa parte desse aumento ainda será influenciado pelo reajuste médio de 19% do preço da energia elétrica cobrada dos consumidores residenciais. Essa projeção menor para a inflação dos preços administrados se deve, parcialmente, ao reajuste dos derivados de petróleo que devem, de acordo com as perspectivas do BC, sofrer uma queda importante nos seus preços. A liberação dos preços dos combustíveis no Brasil este ano também poderá ter um efeito positivo. "Na medida em que seja assegurada a concorrência no comércio de varejo dos derivados de petróleo, os preços ao consumidor deverão cair refletindo as reduções de preço no mercado atacadista", avaliou o presidente do BC.

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