BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), deixou a porta aberta para uma nova redução da taxa básica de juros (Selic) em fevereiro de 2018, avaliaram analistas. Nesta quarta-feira, 6, o Copom anunciou o corte de 0,50 ponto porcentual (p.p) na Selic para 7% ao ano.
"O Copom deixou aberta (a porta) para corte de 0,25 p.p (da Selic) em fevereiro", afirmou Alexandre Espírito Santo, da Órama. Pela estimativa dele, a chance de corte de 0,25 p.p. no início do próximo ano é de 80%.
De acordo com o próprio BC, a taxa não deve cair abaixo de 6,75% ao ano. "O BC fez bem ao sinalizar o limite ao qual pode chegar o ciclo de cortes na taxa de juros", afirmou o economista da Órama.
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Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio Souza Leal, o Copom deixou encaminhado para fevereiro de 2018 o corte de 0,25 p.p. na taxa básica de juros.
Dúvida. Já para o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena, o comunicado da reunião do Copom trouxe um elemento novo em relação às versões anteriores.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele explicou que nas reuniões passadas, os membros do Comitê sinalizavam mais claramente a perspectiva de corte da taxa básica de juros, apresentando ponderações apenas sobre o ritmo de corte.
"Nas reuniões anteriores, quando o ritmo foi desacelerado, o comunicado falava de redução. Agora, ele diz que, diante da fase do ciclo, virtualmente no fim e diante da incerteza muito relevante sobre a aprovação da reforma da Previdência, se o cenário esperado (aprovação da reforma) acontecer, a trajetória de queda pode ser confirmada", declarou Pena.
Desta maneira, ele projeta que a próxima reunião do Copom deve ter um corte de 0,25%, para 6,75% ao ano, ou manter a taxa Selic em 7,0% a.a., sem redução. O economista reconhece, ainda assim, que a sinalização no comunicado pode ser interpretada de maneira diferente por outros participantes do mercado.
"Minha visão é de que, ou acabamos o ciclo de cortes hoje, ou teremos, no máximo, mais um de 0,25% em fevereiro", afirmou. "Ainda assim, não posso ignorar a hipótese - ainda que não seja minha leitura - de que aqueles que projetam o fim do ciclo a 6,5% a.a. leiam o comunicado da seguinte maneira: se desta vez, mais do que nas anteriores, a redução é mais suscetível a mudanças do cenário, talvez um evento importante como a aprovação da Previdência, permita a manutenção do ritmo em 0,5% em fevereiro", ponderou o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.
Para Pena, a ata da reunião, que será divulgada na semana que vem, deve dirimir as dúvidas sobre o espaço para um eventual novo corte da taxa Selic, até pela possibilidade de uma definição em torno da Reforma da Previdência até lá. "De qualquer maneira, independente da visão sobre a intensidade do corte em fevereiro, o mercado sabe que o fim do ciclo está próximo", ressaltou.
Na avaliação do economista, como as projeções de inflação para 2019 do Copom permaneceram em 4,20%, muito próximas ao centro da meta para o ano (4,25%), o Copom deverá manter a cautela na condução da política monetária, mesmo com a estimativa para inflação em 2018 a 4,2%, abaixo do centro da meta, que é de 4,5% para o ano que vem. "Se levar a inflação para o centro da meta em 2018, ajustar a inflação vai implicar no risco de desajustar a inflação de 2019. Se cortar mais agora, vai sensibilizar 2019", apontou.
Previdência. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, avaliou que a aprovação de reformas estruturais, como a da Previdência, e o rigor no controle de gastos públicos são fundamentais para a manutenção da taxa de juros em patamares reduzidos.
"A reforma da Previdência é um dos principais pilares do equilíbrio permanente das contas públicas", destacou o presidente da CNI em nota divulgada nesta quarta-feira, 6, após anúncio da decisão do Copom.
Para o dirigente, a frustração da reforma colocará em risco o ajuste fiscal e a estabilidade alcançada até agora, o que poderá provocar a reversão da trajetória de queda dos juros.
Sobre a decisão do Copom, a CNI afirma que ela já era esperada pela indústria, pois a inflação está sob controle e se mantém abaixo da meta fixada para este ano, de 4,5%. "O juro baixo é fundamental para estimular o consumo e os investimentos e consolidar a recuperação da economia", afirmou o presidente da CNI.
Alexandre Espírito Santo, da Órama, também indicou a frustração com as reformas, sem citar uma em especial, junto com as eleições como fatores que trarão incômido ao BC no segundo trimestre de 2018.
Patamar. Com a redução anunciada nesta quarta-feira, a Selic alcança o menor patamar da série histórica do Copom, iniciada em junho de 1996. Trata-se do décimo corte consecutivo realizado pelos técnicos do BC, que deram início ao atual ciclo de reduções em outubro de 2016, reduzindo de 14,25% para 14% a meta anual para a Selic.