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BC argentino tenta acabar com especulação no câmbio

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de uma estréia temerosa, o Banco Central da República Argentina (BCRA) decidiu optar por uma política agressiva para segurar a taxa de câmbio flutuante em patamar não superior a 1,80 peso por dólar, ou 0,40 acima da taxa do câmbio oficial, determinada logo depois da desvalorização do peso. O diretor do Banco do Brasil, Evandro Lopes de Oliveira, acredita que o BC argentino tenha usado, nos últimos dias, metodologia semelhante à do BC brasileiro para "acabar" com a especulação. "Dá impressão de que o BCRA ouviu ou está ouvindo muito bem as recomendações dos técnicos brasileiros nessas questões de intervenção no mercado", disse Oliveira, em entrevista exclusiva à Agência Estado. Nesta semana, o BB em Buenos Aires tem se transformado em uma espécie de estrela da imprensa argentina, na qual é citado praticamente todos os dias por vender dólares abaixo da cotação de todas as instituições financeiras, casas de câmbio e cambistas. "Simplesmente estamos cumprindo com o compromisso assumido junto ao BC, de vender a divisa norte-americana conforme a resolução determina. Isto, com um ganho de, no máximo, 5 centavos por dólar em relação a taxa vendida pela autoridade monetária argentino", disse o diretor do BB. Por isso, as filas na esquina entre as ruas San Martin e Sarmiento, onde se encontra o prédio do BB em Buenos Aires, tem superado às de qualquer banco nas imediações e também se prolongado até as 17h, horário autorizado pelo BC exclusivamente ao Banco do Brasil. Em média, a agência do BB na capital argentina tem vendido US$ 500 mil a US$ 1 milhão por dia. Ontem, a taxa na agência não passou de 1,67 peso por dólar, apenas 0,05 peso acima de 1,62 leiloado pelo BC. No mercado paralelo, o dólar fechou a 1,65 peso para venda e 1,80 peso para compra. Fôlego Oliveira acredita que o Banco Central argentino tem fôlego para enfrentar a pressão do mercado, injetando dólares suficientes como para não deixar disparar a cotação do câmbio. Indagado se a autoridade monetária argentina poderia suportar essa pressão por longo tempo, o diretor do BB respondeu sim. Para ele, o BC detém hoje o monopólio do dólar no país, razão pela qual dispõe de recursos para manter essa agressividade. "Além das reservas internacionais, o BC tem em mãos, hoje, o superávit da balança comercial. Com isso, o superávit da autoridade monetária em moeda forte vai ser sempre maior do que apenas o superávit comercial, com o qual pode enxugar a liquide de pesos no mercado e, por tabela, controlar qualquer possibilidade de uma disparada dos preços", explicou o diretor do BB. Evandro afirmou ainda que existem mais razões ainda para acreditar no fôlego do BC argentino. "Vale lembrar que a Argentina não está transferindo nem um tostão pelos serviços de sua dívida. Portanto, o déficit que era gerado com isso não existe no momento e, além disso, todos os dólares referentes às exportações terão de passar, pela primeira vez em quase 11 anos de conversibilidade, pelo Banco Central", acrescentou. Jogo de Cintura Oliveira acredita ainda que o presidente Eduardo Duhalde tem jogo de cintura para administrar da melhor forma possível a dura crise política e social que vive o país desde a renúncia, no dia 20 de dezembro, de Fernando de la Rúa. "O grande calcanhar de Aquiles hoje é a relação com o Fundo Monetário Internacional. Se a Argentina quiser retomar o crescimento econômico, terá de resolver o problema de sua dívida externa", afirmou. Para o diretor do BB, a Argentina necessita de crédito para modernizar seu parque industrial e, para isso, é necessário que se acerte com a comunidade internacional. "No curto prazo, acho difícil uma recuperação econômica do país. Mas em um ano ou pouco mais acredito que a Argentina possa já estar dando sinais de crescimento, já que, além do forte pilar agroindustrial, tem os pilares energético e cultural, importantes para uma nação", disse. Agora, acrescentou Oliveira, "é importante que o governo defina um modelo econômico". Leia o especial

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