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BC coordenará estratégia do governo para conter a valorização do real

Instituição fará 'leilões-surpresa' para comprar moeda americana; por ora, está descartado aumento da alíquota de IOF na entrada de dólar

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Por Adriana Fernandes , Fabio Graner , Fernando Nakagawa e BRASÍLIA
Atualização:

O Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC) definiram que, neste momento, a estratégia para conter a valorização do real está concentrada no BC. A instituição, que retomou os leilões para compra de dólares, poderá adotar uma postura mais agressiva e intensificar sua ação no mercado à vista adotando uma sequência de vários "leilões-surpresa" de compra da moeda americana em um mesmo dia. "A ordem é comprar, comprar e comprar", disse uma fonte do governo, ao revelar que o foco está no movimento desencadeado pelo Japão para conter a valorização de sua moeda frente ao dólar. Desde a semana passada, o BC já ampliou sua atuação e vem fazendo dois leilões diários. Ontem, o dólar caiu 0,70%, para R$ 1,714. No ano, a moeda americana se desvaloriza 1,66%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, teme um movimento especulativo de maior proporção que dificulte ainda mais a ação do governo para equilibrar o real em relação ao dólar e a outras moedas. Assim como no Japão (que fez uma pesada intervenção no mercado cambial na quarta-feira), o governo quer evitar uma distorção muito grande nas cotações, o que daria a oportunidade de ganho aos especuladores. A esperada avalanche de dólares que entrará no País com a capitalização da Petrobrás preocupa, mas há alternativas. Mantega avisa ao mercado que o governo tem poder de fogo nessa briga e poderá autorizar o Fundo Soberano do Brasil (FSB) a comprar "todos os dólares" que entrarem para a capitalização da empresa. O BC, por sua vez, sustenta que uma atuação agressiva no mercado à vista também neutralizaria a valorização excessiva da moeda nacional com os dólares da capitalização. Na ofensiva, ainda há a possibilidade de uso dos contratos de swap cambial reverso (que equivale a uma compra de dólares), caso se intensifiquem as apostas no mercado futuro de que o real vai manter-se valorizado. O poder de atuação do FSB no câmbio é considerado pela Fazenda como ilimitado, já que ao governo bastaria emitir títulos para a carteira do fundo. Essa emissão, porém, é contabilizada como dívida pública. Mantega reage às críticas. "É exatamente isso que o BC faz: compra dólares e eleva o endividamento por meio do enxugamento de recursos com operações compromissadas." Ou seja, quando compra dólares, o BC é obrigado a emitir papéis para retirar do mercado os reais correspondentes à operação. Efeitos. O governo entende que a combinação das atuações do BC - que ainda pode operar com o swap reverso - e Fazenda, com os instrumentos tradicionais de intervenção, deverá atenuar o processo dos últimos dias. Tanto que o dólar subiu após as declarações de Mantega na quarta-feira. A adoção de medidas de caráter mais heterodoxo, como uma elevação na alíquota de 2% do IOF sobre capital estrangeiro, instituída no ano passado para enfrentar a avalanche de dólares especulativos, é vista como último recurso. É uma medida que enfrenta resistências na equipe, mas está engatilhada para ser utilizada se as medidas normais não surtirem efeito e o real continuar se valorizando. No BC, prevalece o entendimento de que a compra de dólares é uma opção eficiente para corrigir desequilíbrios no mercado à vista. Sexta-feira, o BC adquiriu cerca de US$ 1,5 bilhão em dois leilões no mercado à vista.

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