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Repórter especial de economia em Brasília

BC dá uma paulada nos juros para afastar 'Bolsocaro' em 2022

O que se espera agora é que o dólar caia e ajude a conter os repasses de preços

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

Na primeira decisão após a aprovação do projeto de autonomia, o Banco Central deu uma paulada na taxa de juros para afastar o risco de aceleração da inflação que tomou conta do País num cenário de queda de Produto Interno Bruto (PIB) e expectativa de recessão no primeiro semestre.

Dois caminhos que não se combinam, mas que no Brasil pandêmico de 2021 retratam o momento extremamente delicado para a economia de desorganização que o País vive hoje por causa do combate da pandemia.

Campos Neto sancionou a aposta mais salgada de elevação da taxa Selic. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Resultado de escolhas erradas e incertezas ampliadas (a maioria delas patrocinadas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro) que colocaram combustível adicional no processo de desvalorização do real frente ao dólar. A alta do câmbio acabou puxando a inflação e agora os juros subiram de 2% para 2,75%.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que há poucos dias pregou calma e tranquilidade na condução da política de juros quando o mercado financeiro cobrava uma alta de 0,75 ponto porcentual (que acabou acontecendo hoje) botou o pé do acelerador e sancionou a aposta mais salgada de elevação da taxa Selic, os juros básicos do Brasil.

Disparou um tiro mais forte para evitar que a alta de hoje se espalhe em 2022, ano de eleições presidenciais, com a contaminação das expectativas. Como mostrou o Estadão, nos últimos meses, a inflação acelerou e virou o calcanhar de aquiles do presidente. Cobrado nas redes sociais pela alta da inflação, com vídeos que intitulam o movimento de alta dos preços como “Bolsocaro”, o presidente já reclamou em público diversas vezes do reajuste dos preços da carne, do arroz, do gás de cozinha e dos combustíveis.

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Nos últimos tempos, Campos Neto entrou na seara política com negociação aberta com lideranças do Congresso para afastar o risco fiscal e aliviar para o seu lado a tarefa de controlar a alta da inflação com um processo mais suave de alta de juros.

Não foi suficiente. A calma ficou para trás e o BC colocou munição para esfriar ainda mais a economia. O que se espera agora é que o dólar caia e ajude a conter os repasses de preços. O teste da blindagem do BC começa agora. Vai ter chiadeira.

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