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BC deu a palavra final, apesar da cruzada de Mantega

Por Fabio Graner
Atualização:

A decisão de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, de elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual para 11,75% ao ano, tem potencial para acirrar os ânimos do governo no debate sobre os rumos da política econômica. Quando em meados de março os sinais de que a alta da Selic era iminente começaram a ficar mais claros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu a campo de maneira atabalhoada para tentar pressionar o Banco Central a não elevar os juros. É a primeira vez que os juros sobem desde abril de 2005. E com Mantega se alinharam o grupo desenvolvimentista do governo, os conselheiros do presidente Lula e o setor empresarial. A preocupação central desse grupo é que a elevação dos juros básicos provoque uma aceleração no movimento de valorização do real ante o dólar e agrave o quadro de deterioração da conta corrente do balanço de pagamentos, sobretudo para 2009 e 2010. Isso porque o real valorizado, além de tirar competitividade das exportações, favorece as importações. O primeiro capítulo teve contornos tragicômicos. O ministro da Fazenda lançou nos jornais uma idéia de limitar financiamentos de bens duráveis, como veículos. Mantega avaliava que, tentando conter os empréstimos de prazo superior a 36 meses, poderia desaquecer um pouco a demanda e evitar que o BC subisse os juros. A proposta, que remontava aos inflacionários anos 80, foi bombardeada por todos os lados, inclusive por aliados, e engavetada com um desmentido. Mantega então passou a se reunir com empresários dos setores com maior demanda, como automotivo e siderúrgico, entre outros, para questionar se os investimentos estavam sendo feitos. A mensagem que ele tentava passar ao BC era de que a oferta da economia estava sendo ampliada e a demanda aquecida seria plenamente suprida sem inflação, quando os investimentos amadurecessem. No fim de março, em outro capítulo da novela, o BC divulgou seu relatório trimestral de inflação, com projeções que mostravam o IPCA acima da meta no fim do ano. Mais importante nesse dia, contudo, foi a declaração do diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita. Ele disse que o BC deve agir de forma preventiva e autoridades monetárias que esperam a inflação divergir demais da meta para agir, depois têm de fazê-lo de forma mais intensa e por mais tempo. Interpretada pelo mercado como declaração de voto pela alta nos juros e sinal claro de que o BC subiria os juros, a fala de Mesquita e os sinais do BC receberam uma reação de Mantega poucos dias depois, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Em um bem elaborado discurso sobre a situação da economia brasileira, Mantega atacou os ?ortodoxos?, que, segundo ele, ?costumam ter medo do crescimento?. Foi o momento mais grave da disputa entre BC e Fazenda, que ainda teve adicionado, poucos dias depois, os ingredientes de proposta de elevar informalmente o superávit primário para tentar evitar a alta na Selic e a ventilação da idéia, improcedente, de que o governo estaria estudando instituir um sistema de metas de câmbio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo e chamou o presidente do BC, Henrique Meirelles, e Mantega para conversarem. Desde então, Mantega conteve seu ímpeto declaratório e a briga refluiu.

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