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BC eleva projeção para a inflação e já admite entregar IPCA na meta somente em 2017

Banco Central prevê IPCA mais elevado em 2015 e em 2016; ao invés de elevar o juro, maioria dos membros do Copom preferiu monitorar o cenário até o próximo encontro, em janeiro

Foto do author Célia Froufe
Foto do author Eduardo Rodrigues
Por Célia Froufe (Broadcast), Eduardo Rodrigues e Victor Martins
Atualização:
Ata informou que osmembros que votaram pela manutenção do juroem 14,25%consideraram 'monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião' Foto: ANDRE DUSEK | ESTADAO CONTEUDO

Em ata divulgada na manhã desta quinta-feira, o Banco Central informou que sua expectativa para a inflação de 2015 subiu e segue acima do centro da meta de 4,5%, tanto no cenário de referência como no de mercado. E mais: já admitindo que só entregará a inflação na meta em 2017, o BC passou a prever um IPCA ainda mais elevado também em 2016.

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Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual o colegiado resolveu manter a taxa básica de juros Selic em 14,25% ao ano, o BC informou que sua projeção de inflação no cenário de referência aumentou frente o encontro anterior e se situa acima do centro da meta. No caso do cenário em que o BC usa parâmetros de mercado para fazer projeções, a estimativa para 2016 também aumentou, continuando acima do centro da meta. 

O BC não divulga qual a taxa esperada na ata, apenas no Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado um pouco antes do Natal. A meta, fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), está em 4,5% para este ano, 2016 e 2017. Em 2017, a margem de tolerância será reduzida de 2 pontos porcentuais (pp) para cima ou para baixo para 1,5 pp.

No Relatório Trimestral de Inflação mais recente, divulgado em setembro, a estimativa do BC para o IPCA do ano que vem estava em 5,3% no cenário de referência e em 5,4% no de mercado. Nomesmo RTI, a autoridade informou que sua previsão para a inflação deste ano estava em 9,5% no cenário de referência e no de mercado.

A ata reforçou que o foco da meta de inflação foi jogado para 2017, conforme já admitido pelo diretor de Política Econômica da instituição, Altamir Lopes. Agora, o comitê afirma que o objetivo é a convergência da inflação para a meta de 4,5% em 2017. Na ata anterior, o colegiado mantinha a avaliação de que as decisões futuras do Copom seriam tomadas para assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5% no horizonte relevante para a política monetária.

Para 2016, o BC promete em trazer a inflação "o mais próximo possível de 4,5%", mas com a ressalva de circunscrevê-la aos limites estabelecidos pelo CMN, cujo teto é de 6,5% no próximo ano. 

Cúpula dividida. A decisão de manter a Selic não foi unânime (6x2), com dois membros do colegiado votando pela alta imediata da Selic. A ata detalha as razões do voto dividido do colegiado. Os membros que votaram pela manutenção da taxa em 14,25% - Alexandre Tombini, Anthero Meirelles, Aldo Mendes, Altamir Lopes, Luiz Feltrim e Otávio Damaso - consideraram "monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária". O encontro ocorre em 19 e 20 de janeiro.

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Para Sidnei Marques e Tony Volpon, a Selic já poderia ter subido para 14,75%. A dupla argumentou que "seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação".

Na última vez em que o Copom teve uma votação dividida, em outubro do ano passado, parte dos seus membros alegou que incertezas ainda cercavam a magnitude e a persistência dos ajustes de preços relativos. Desde que o Banco Central passou a abrir os votos, em 2012, houve quatro votações sem unanimidade. O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural, Sidnei Marques, sempre esteve na ponta mais conservadora dos votos, se tornando o membro mais hawkish do colegiado. 

Impactos. O Copom informou que mudou sua premissa para o câmbio de R$ 3,85 para R$ 3,80 pelo cenário de referência. Apesar da baixa, o novo valor considerado para o dólar está acima do negociado no dia em que o colegiado decidiu manter a Selic em 14,25% ao ano pela terceira vez, embora a utilização de uma referência mais baixa para o câmbio seja recorrente nos documentos do Banco Central. Na quarta-feira passada, o dólar à vista fechou em R$ 3,7422. O dólar futuro para dezembro, no mesmo dia da reunião, fechou em R$ 3,7480.

O realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais - via alta do dólar - vem sendo apontado pelo BC como um dos principais fatores de pressão para a inflação no curto prazo ao lado do ajuste de preços administrados ou monitorados pelo governo. No cado dos administrados, como energia elétrica, gasolina e tarifa de água, o Banco Central revisou mais uma vez para cima sua projeção. Para a autoridade monetária, esse conjunto de itens apresentará este ano elevação maior até do que a prevista pelo mercado financeiro. O avanço será de 17,7% este ano, e não mais de 16,9% como constava na edição de outubro. Para 2016, a diretoria prevê alta dos preços administrados de 5,9%, ante variação de 5,8% da ata de outubro.

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A questão fiscal ganhou destaque na divulgação. A ata trouxe pela primeira vez a avaliação de que as indefinições e alterações significativas na trajetória de geração de resultados primários também têm impactado negativamente as expectativas de inflação. Até o documento anterior, o colegiado considerava que as incertezas fiscais contribuíam apenas para criar uma percepção negativa sobre o ambiente macroeconômico.

Tendo em mãos a informação de que o governo passaria a trabalhar com um rombo fiscal de 0,85% do PIB para este, o Banco Central colocou na conta das suas projeções pela primeira vez a expressão "déficit primário" na ata do Copom. Mesmo assim, manteve a avaliação de que o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade. Mais do que isso, nem descartou a hipótese de migração para a zona de contenção, ainda que ela de forma lenta e em menor intensidade em relação ao anteriormente projetado. Como o BC trabalha com "resultado primário estrutural", isso significa que o PIB que é levado em conta pela instituição segue ainda de forma mais robusta no terreno negativo.

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