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BC: emprego e salário mínimo devem amortecer crise

Por FABIO GRANER E RENATA VERÍSSIMO
Atualização:

O Banco Central afirmou no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje, que o ainda elevado nível de emprego e as perspectivas para o salário mínimo devem funcionar como "amortecedores" do impacto da crise internacional no Brasil no curto prazo. "No médio prazo, porém, pode-se ter um mecanismo de retroalimentação, com as condições restritivas de crédito e a maior incerteza gerando adiamento de decisões de consumo e investimento, que se traduzem em efetivo desaquecimento econômico, de modo que a redução da renda real e o emprego reforçam os impulsos iniciais", afirmou a autoridade monetária no relatório. "Por outro lado, na medida em que o ponto mais delicado da crise financeira internacional comece a ser superado e os agentes domésticos percebam que não se justificam comportamentos defensivos, tendo como pano de fundo os sólidos fundamentos da economia brasileira, a economia pode paulatinamente retomar sua expansão", acrescentou o BC. O relatório destaca que a dificuldade de avaliação sobre os impactos da crise na economia brasileira é acentuada pelo fato de que isto ocorre de forma heterogênea entre os setores. "Os mais sensíveis ao crédito tendem a ser os mais afetados, pelo menos na fase inicial. Em particular, bens cuja aquisição implica um comprometimento maior da renda das famílias, seja em termos de parcela das prestações na renda ou de tamanho do período de comprometimento com o pagamento das prestações, tendem a ser mais afetados, pois é natural que no ambiente atual os agentes adiem decisões de compra de maior significância", diz o BC. Outro fator que para o BC adiciona incerteza ao cenário macroeconômico é a perspectiva de redução da safra agrícola brasileira no ano que vem. "Por um lado, tal desenvolvimento tenderia a conter o crescimento da renda e da atividade em algumas regiões, mormente no centro-oeste e sul do país. Por outro, a redução da oferta agrícola poderia realimentar pressões sobre os preços de alimentos, com potenciais conseqüências inflacionárias", diz o BC. O relatório de inflação afirma que o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia que os sólidos fundamentos da economia brasileira permitem um enfrentamento da crise global sem rupturas. "Na verdade, esse enfrentamento não exige mudança de regime de política econômica do País, diferentemente do que ocorreu no início de 1999. O tripé metas para a inflação, ajuste fiscal e taxa de câmbio flutuante está consolidado e combina resistência e flexibilidade", afirma o BC. A instituição avalia ainda que a sólida posição financeira externa, com o expressivo volume de reservas internacionais, os superávits comerciais e o financiamento externo baseado principalmente em investimento direto reforçam a percepção de que as turbulências atuais poderão ser vencidas sem rupturas. Câmbio A depreciação da taxa de câmbio ainda não afeta significativamente a evolução dos preços no Brasil, segundo informações contidas no Relatório Trimestral de Inflação divulgado pelo Banco Central. O documento, no entanto, destaca a existência de um risco associado à defasagem entre a variação cambial e sua repercussão sobre os preços ao consumidor. O BC ainda alerta que é possível que as empresas estejam aguardando um quadro mais claro sobre o patamar que o dólar se estabilizará para definir possíveis reajustes. "Em princípio, os últimos movimentos de preços no atacado têm apontado um cenário de repasses mais contidos no curto prazo. Entretanto, na eventualidade de que patamares para a taxa de câmbio anteriormente vistos como transitórios passem a ser avaliados como permanentes, aumenta a probabilidade de que o repasse se intensifique", afirma o BC. Segundo o relatório, o efeito inflacionário pode não ser desprezível, sendo possível que se verifique elevação da inflação no curto prazo, e redução no médio prazo. "Nesse caso, cabe à política monetária evitar que os movimentos de preços decorrentes da depreciação cambial contaminem as expectativas de inflação ou se traduzam em efeitos de segunda ordem decorrentes de tentativa de realinhamento de preços, incluindo salários, a valores anteriores à depreciação", ressalta. Segundo o relatório, a consolidação de instituições monetárias e fiscais, com destaque para o regime de metas para a inflação, pode atuar no sentido de amortecer o repasse. Embora o recuo nos preços das commodities possa contrabalançar o impacto da depreciação cambial na inflação, o BC destaca que elas representam parcela minoritária na cesta de bens importados.

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