12 de agosto de 2015 | 02h04
BRASÍLIA - A contaminação da economia pelas incertezas políticas está exigindo da equipe econômica do governo cautela redobrada para lidar com o impacto da crise de governabilidade na cotação do dólar, mas não deve mudar a estratégia do Banco Central de tentar levar a inflação para o centro da meta de 4,5% ao final de 2016, como planejado inicialmente, apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
A incerteza gerada em torno da crise política é bastante deletéria para a economia, tem causado grande apreensão nas autoridades econômicas, porém, avalia-se que o nível de estresse que se formou na semana passada, com a disparada nas cotações do dólar, não tem condições de se prolongar ao longo de várias semanas seguidas.
A estratégia adotada neste momento de grande complexidade é a de buscar remover incertezas. E não adicionar mais volatilidade no câmbio, o que levou ao anúncio, na quinta-feira passada, de ajustes nos leilões diários, com a ampliação da rolagem de contratos de swap cambial. O BC aumentou de 60% para 100% a rolagem dos contratos de swap cambial.
O Broadcast apurou, no entanto, que não se deve esperar do BC uma ação de venda de dólares à vista para "financiar" a saída do País dos investidores. Há três meses, o fluxo cambial do Brasil registra saídas maiores do que ingressos, em reação às turbulências políticas que minaram o cenário econômico. Esse quadro tem gerado expectativas no mercado de que o BC pode atuar em algum momento vendendo divisas para diminuir a pressão no câmbio.
China. Além do impacto da crise política, a cotação do dólar também sofre influência de outros fatores externos, como a decisão da China de desvalorizar o yuan e da expectativa em torno do início da alta dos juros pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
O câmbio flutuante é considerado pela equipe econômica como a primeira linha de defesa do País para os momentos de maior turbulência como os de agora. Se o quadro ruim se reflete na taxa de câmbio, o entendimento é de que essa situação tem, de alguma forma, de tornar mais cara a saída dos investidores.
Se na política os riscos não são totalmente conhecidos, o BC aparenta não abrir mão de levar a inflação para o centro da meta no ano que vem. Do lado da agenda econômica, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, intensificaram a ofensiva política para aprovação das medidas de ajuste e de novas ações para a retomada do crescimento. A agenda está sendo construída com o Senado Federal numa busca de um consenso para afastar as chamadas pautas-bomba.
Mesmo com o aumento dos riscos decorrentes da redução drástica das metas fiscais e da alta do dólar, são consideradas equivocadas pelo governo avaliações de analistas do mercado de que a estratégia de mirar a meta em 4,5% será abandonada mais à frente ou não há mais tanto foco nesse caminho. Para chegar ao centro da meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) já avisou que o BC terá de manter a sua estratégia por um tempo suficientemente prolongado, mas de olho nos desvios que possam ocorrer na trajetória.
A atividade econômica fraca vai ajudar nesse trabalho, o que reduz também o repasse da alta do dólar para os preços. O segundo semestre de 2016 é considerado o momento crítico para se atingir a meta de inflação, depois de um período esperado de queda acentuada do IPCA acumulado em 12 meses nos primeiros meses do ano que vem.
A expectativa é de que, na metade do ano que vem, os efeitos defasados da política monetária estejam ainda operando para reduzir a inflação. O choque agudo de alta dos preços administrados, principalmente de energia elétrica, já terá passado e a política fiscal estará ajudando o BC na tarefa de trazer para baixo o IPCA.
O desligamento das térmicas, a redução da demanda por energia e o regime de chuvas mais favorável também têm contribuído para melhorar as expectativas de inflação. A perspectiva de inflação do setor de serviços é mais benigna num quadro em que o aumento do desemprego acompanha a desaceleração econômica.
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