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BC muda regra para conter o câmbio

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dia após a eleição e já com a certeza do segundo turno na disputa presidencial, o Banco Central resolveu assumir uma postura mais agressiva para tentar conter a alta do dólar. O BC está dificultando as operações no mercado de câmbio e exigindo que os bancos tenham mais capital próprio para fazer frente ao risco cambial. Essa era uma medida que os analistas de mercado vinham aguardando há mais de 20 dias, quando a cotação do dólar passou dos R$ 3,30 e, desde então, resiste a cair. Há cerca de 10 dias, quando a moeda estrangeira se aproximou dos R$ 4, acreditava-se que a decisão seria anunciada em questão de horas. No entanto, somente hoje o diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, anunciou a medida, que foi classificada como uma regra "prudencial" para evitar o aumento do risco dos bancos que estão com excesso de dólar em carteira. O diretor disse que era "uma mera coincidência" a medida ter sido tomada logo após as eleições, mas não quis falar desde quando a nova regra estava sendo cogitada pela diretoria do BC. Segundo Darcy, esse é um dos instrumentos que o BC dispõe para atuar em momentos de volatilidade. "O BC já adotou outras medidas que não surtiram o efeito esperado", afirmou, se referindo às mudanças no recolhimento compulsório dos bancos, aos leilões de contratos de câmbio (swap) e de linhas externas. O diretor rebateu ainda críticas de que o BC estaria agindo agora para favorecer o candidato do governo e não aceitou provocações quando jornalistas lembraram que, horas antes, o candidato da oposição tinha dito que o governo é que deveria agir para acalmar o mercado. "O BC não atende a pedido de nenhum candidato", disse. A medida anunciada pelo BC era esperada justamente porque representa um forte golpe nos bancos que estão operando pesadamente no mercado de câmbio nas últimas semanas. Ao exigir que as instituições tenham mais capital para fazer frente a essas operações, o BC, na prática, vai obrigar muitos bancos a se desfazerem dos dólares acumulados na carteira. Por exemplo, uma instituição que opere apenas com câmbio e tenha R$ 100 investido nessas operações, precisava, até ontem, de ter R$ 50 de capital próprio. Agora, esse valor sobe para R$ 75. Como a grande maioria dos bancos opera em outros segmentos, como juros, crédito e swap, essa relação não é direta. Mas, ainda assim, exigirá mais capital das instituições. Pelas novas regras do BC, quem estiver operando acima do patamar mínimo não poderá fazer novos contratos já a partir de amanhã, e terá até a próxima segunda-feira para regularizar a situação. "Isso deve diminuir o apetite dos bancos para comprar dólares", acredita o diretor. Segundo ele, as instituições estão com excesso de moeda estrangeira nas suas carteiras. Com a medida, parte desses dólares deverá ser vendida no mercado, o que reduz a necessidade de intervenção do BC com venda de dólares no mercado à vista. No final, o BC acredita que isso poderá ajudar a diminuir a pressão no mercado de câmbio. "Em função da volatilidade elevada, estamos reduzindo um pouco mais a alavancagem do sistema. Se o banco quiser operar com câmbio, tem que ter capital para suportar isso", afirmou Darcy. Ele lembrou ainda que a medida que estabelece limites para o risco cambial foi criada pelo BC em 1999, logo pós a mudança do regime cambial e a quebra dos bancos Marka e FonteCindam, justamente por estarem muito alavancados no mercado de câmbio. Inicialmente o BC estabeleceu em 50% o fator que mede o risco cambial. Em março de 2000, quando o mercado financeiro estava mais estável, esse porcentual foi reduzido para 33%, voltando a subir para 50% em setembro passado, logo após a crise da Argentina e os atentados terroristas dos Estados Unidos.

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