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BC pode subir juro para evitar impacto do dólar nos preços

Para Ricardo Humberto Rocha, do Ibmec-SP, ciclo de alta da taxa de juros no Brasil ainda não se encerrou

Por Giuliana Vallone
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) pode manter a elevação da taxa básica de juros, a Selic, mesmo em meio à crise financeira mundial e à escassez de crédito. A opinião é do professor de Finanças do Ibmec-SP, Ricardo Humberto Rocha. Para ele, o Banco Central deve avaliar, na reunião desta terça e quarta-feira, o impacto da valorização do dólar sobre a inflação do País para decidir sobre o futuro da Selic. "Não vai ser uma reunião fácil", alertou. Veja também: Saiba o que está em jogo na decisão sobre os juros Veja os reflexos da crise financeira em todo o mundo Veja os primeiros indicadores da crise financeira no Brasil Lições de 29 Como o mundo reage à crise  Entenda a disparada do dólar e seus efeitos Dicionário da crise  "Se você olhar o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), ele tem um porcentual elevado de preços no atacado, e essa parcela é fortemente influenciada pelo câmbio. Em 2009, existem contratos como telefonia, como energia que estão indexados ao IGP-M. "Então a grande questão é: o Banco Central vai continuar o processo de elevação por pressões inflacionárias de custo?", afirmou. Rocha explicou que, se antes o ritmo de alta dos juros era determinado pela inflação de demanda no País, gerada pelo crédito farto, agora ele deve ser influenciado pela inflação de custo. "Porque não tem mais pressão de demanda. Primeiro porque o consumidor está assustado. E segundo porque o crédito já está se escasseando, os bancos estão segurando os recursos." Para ele, o ciclo de alta dos juros no Brasil ainda não se encerrou. "Eu não vejo espaço para um corte da Selic, com o câmbio subindo assim. Isso porque o Brasil não emite dólar nem euro", disse. Rocha afirmou que, se o Copom optar por não subir a taxa novamente nesta quarta, "é apenas porque vai aguardar uma finalização mais forte do impacto do câmbio nos preços". Manutenção A opção mais cotada no mercado, porém, é a de manutenção da taxa de juros na reunião de outubro do Comitê, em razão da escassez do crédito gerada pela crise financeira internacional. Os bancos têm menos recursos e menor disponibilidade para emprestar, porque o risco dos financiamentos aumentou muito. "A seletividade está muito maior. É só você olhar o que está acontecendo com o financiamento de veículos: já diminuiu o prazo, aumentou a parcela de entrada", afirmou o professor. Na opinião dele, porém, a manutenção da taxa não é opção para fazer com que as instituições financeiras voltem a emprestar e, assim, ampliem a oferta de dinheiro disponível. "Manter a taxa não vai fazer com que o dinheiro flua dos bancos para consumidores ou empresas. Porque os bancos estão dando preferindo manter a liquidez do sistema." Rocha afirmou que as recentes mudanças nas regras do depósito compulsório anunciadas pelo Banco Central não têm como objetivo estimular a volta dos empréstimos no País, mas sim gerar liquidez ao sistema financeiro e aumentar a confiança mundial de que ele é sólido. "O sistema financeiro só funciona com confiança", ressaltou. "A leitura é: o sistema financeiro está bem e precisa, ao final da crise, continuar bem. A crise vai passar. E quando ela passar, o ciclo de expansão da atividade começa de novo. Aí os nossos bancos têm que estar preparados pra financiar o consumo das pessoas físicas e a produção das empresas", explicou. "O Banco Central está apenas preservando a jóia da coroa." Para ele, os bancos não vão voltar a emprestar até que consigam enxergar melhor o cenário de 2009 - ano em que o mundo todo deverá ter um crescimento menor da economia. "Nesse momentos de crise, o ativo mais importante chama-se caixa. Se ele é mais importantes para as pessoas físicas e para as empresas, é para os bancos também", disse.

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