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BC prevê alta de 3,2% para o PIB em 2009

Taxa estimada no Relatório de Inflação é inferior aos 4% estabelecidos como meta pelo Ministério da Fazenda e reafirmados ontem por Lula

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

Abalada pela crise, a economia brasileira deverá crescer 3,2% em 2009, segundo estima o Banco Central no Relatório de Inflação, divulgado ontem. É uma taxa mais modesta do que os 4% estabelecidos como meta do governo pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e reafirmados ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O crescimento de 3,2% é o que consideramos mais provável, mas não quer dizer que 4% seja impossível", disse o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mario Mesquita. "4% está dentro do intervalo de possibilidades", afirmou. Leia a íntegra do relatório apresentado pelo BC O relatório divulgado ontem, o primeiro após o recrudescimento da crise financeira, traz projeções do BC pelas quais a inflação fechará este ano em 6,2% e o ano que vem em 4,7%. Nos dois casos, o resultado está acima do centro da meta, que é 4,5%, mas dentro da margem de tolerância, que vai até 6,5%. Pelas projeções do BC, a inflação só deverá cair para o centro da meta em 2010. As projeções do Produto Interno Bruto (PIB) e da inflação são conservadoras, pois trabalham com a hipótese de a taxa de juros constante em 13,75% até o fim do ano que vem e o dólar, em R$ 2,40. O mercado, porém, já trabalha com projeções mais baixas para juros e câmbio. Mesquita disse que nos anos anteriores o relatório projetou taxas de crescimento do PIB menores que as efetivamente ocorridas. O diretor classificou o crescimento de 3,2% como "uma desaceleração importante" da atividade econômica, mas ponderou que o número ainda é maior do que a média registrada nos 10 anos antes de 2007. É também superior aos 2,2% projetados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia global. No relatório, o BC diz que a crise está afetando o País "de forma mais intensa do que se antecipava". O texto mostra que reflexos da crise já são visíveis em toda a economia, com queda na produção industrial, nas vendas do comércio e no emprego. Porém, ainda não está claro até que ponto a crise vai desacelerar o consumo e o investimento ou quais os efeitos das medidas recentemente adotadas pelo governo sobre a economia como um todo. Há dúvidas, ainda, sobre o efeito da alta do dólar nos preços no ano que vem. O relatório diz que até o momento os repasses têm sido contidos, mas poderão tornar-se mais intensos se as empresas avaliarem que a alta não é temporária. Com isso, ficam vários pontos de interrogação sobre a trajetória da inflação no futuro. Se por um lado a desaceleração elimina pressões que puxavam a inflação para cima, o câmbio pode fazer o trabalho inverso. O BC também não sabe ao certo se a economia vai mesmo esfriar no ano que vem. Investimentos em infra-estrutura, programas de transferência de renda do governo e um desempenho não tão ruim no mercado de trabalho podem manter vivo o risco de alta da inflação. "O risco de materialização de um cenário inflacionário menos benigno recuou, mas segue relevante", diz o Relatório. A autoridade monetária afirma que o enfrentamento da crise "não exige mudança de regime de política econômica no País, diferentemente do que ocorreu no início de 1999." SEM TANTO RIGOR Mesquita aproveitou a divulgação do Relatório para rebater as críticas de que o Banco Central seria excessivamente conservador na condução da política monetária (de juros). Ele apresentou um estudo segundo o qual a inflação brasileira ficou acima do centro da meta em 70% do tempo desde que o regime de metas foi adotado no País. Ficou abaixo do centro em 24% do tempo. "Não dá para dizer que a política monetária é excessivamente restritiva", disse Mesquita. "Se ela ficasse abaixo do centro 70% do tempo, aí a crítica faria sentido." Em outras palavras, se o rigor do Banco Central fosse mesmo excessivo, a taxa de juros exageradamente elevada faria com que a inflação permanecesse mais tempo abaixo da meta do que acima. O que ocorre é o contrário. Nos demais países que usam o mesmo sistema, disse Mesquita, o desempenho é meio a meio.

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