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BC projeta nova queda no crédito para empresas em 2018

Previsão é de recuo de 2%, principalmente por conta da queda dos desembolsos feitos pelo BNDES

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Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
Atualização:
Número sugere um início de estabilização, após os recuos de 9,5% em 2016 e de 8% em 2017 Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

BRASÍLIA - Projeções divulgadas nesta sexta-feira, 22, pelo Banco Central mostram que as operações de crédito para pessoas jurídicas devem recuar 2% no próximo ano. Mas a avaliação é que, apesar de negativo, o número sugere um início de estabilização, após os recuos de 9,5% em 2016 e de 8% em 2017.

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O ambiente ainda negativo para o crédito às empresas se deve, em grande parte, ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com a recessão iniciada em 2015, as operações do banco caíram vertiginosamente e a expectativa de economistas do mercado financeiro é de que o BNDES nunca mais volte a ter o tamanho que tinha há alguns anos. O próprio BC estima que o volume de crédito direcionado - que engloba as operações do BNDES - passe por nova retração em 2018, de 6,0%. Já o crédito livre - aquele que não inclui as operações do BNDES - deve subir 1,0% no próximo ano no caso das empresas.

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Apenas em novembro, o saldo do crédito com recursos livres para empresas subiu 0,7%, enquanto no caso dos recursos direcionados houve baixa de 1,1%. O saldo total de operações de crédito, considerando recursos livres e direcionados, tanto para as famílias quanto para as empresas, subiu 0,4% no mês passado. 

“O saldo de operações de crédito cresceu em novembro pelo segundo mês consecutivo. O crédito livre puxa esse crescimento, enquanto o direcionado continua com recuo”, afirmou o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, em entrevista para apresentação dos números.

O crédito do BNDES caiu 12,9% nos últimos 12 meses até novembro, destacou Rocha, e o movimento deve continuar no próximo ano. “Ainda assim, o que se projeta é uma recuperação gradual do mercado de crédito em 2018, puxada pelas concessões com recursos livres para as famílias. A desalavancagem das famílias está mais avançada que a das empresas”, acrescentou.

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Otimismo. Economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast concordam com a avaliação de que a situação do crédito para as empresas vai melhorar em 2018, mas ponderam que o BNDES, que encolheu nos últimos anos, nunca mais será o mesmo.

“Quase a totalidade dessa contração do crédito de pessoas jurídicas é consequência do encolhimento do papel do BNDES nos últimos anos”, lembrou o economista Mauro Schneider, da MCM Consultores Associados. “O crédito de pessoa jurídica de bancos privados (crédito livre) está com uma perspectiva melhor. O quadro é favorável a uma retomada modesta no próximo ano, porque há uma situação de melhora da economia.”

Para o economista João Morais, da Tendências Consultoria Integrada, já há um “esboço de recuperação” para o crédito às empresas. Porém, essa melhora é mais lenta do que o verificado no caso do crédito às famílias, que vem crescendo há meses. “A melhora da condição financeira foi mais intensa para as famílias em 2017 do que para as empresas”, diz Morais. “As famílias vinham reduzindo seu endividamento há mais tempo do que as empresas, que ainda estão nesse processo. Isso ainda limita a demanda.”

Além da procura contida de financiamento por parte das empresas, os bancos também estão seletivos na hora de liberar recursos. “Isso ocorre porque o risco está grande. Temos ainda muitas empresas grandes envolvidas na Lava Jato”, afirma Morais, ao justificar a demora na reação do crédito para pessoas jurídicas. “Para as micro e pequenas empresas, a reação está um pouco mais clara.”

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Mudança. O governo e o próprio Banco Central têm defendido que o crédito no País passa por um processo de mudança. A redução da importância do BNDES para as empresas faz parte disso, mas o BC também tem destacado o aumento das operações ligadas ao mercado de capitais. 

No lugar de buscar recursos nos bancos, companhias maiores estão preferindo abrir capital, colocando ações na Bolsa, ou emitir títulos. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que as captações no mercado de capitais cresceram 75% em 2017 até outubro, ante o mesmo período de 2016. “Há evidências de que parte da redução do crédito para pessoas jurídicas se deve à substituição do financiamento bancário pelo mercado de capitais. Vemos crescimento no mercado de capitais, acessado este ano por grandes empresas”, comentou Rocha.

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