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BC reduz previsão de alta do PIB para 0,8%

Nova estimativa ainda contraria as expectativas do mercado

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes e Edna Simão
Atualização:

Contrariando as expectativas mais pessimistas do mercado, o Banco Central (BC) surpreendeu ontem ao reduzir de 1,2% para 0,8% a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2009. Numa ação de sintonia fina de coordenação das expectativas dos agentes econômicos, o BC sinalizou no relatório trimestral de inflação que vê sinais claros de retomada do crescimento, embora em ritmo ainda gradual. E o principal: sem maiores riscos para a inflação em 2009 e 2010. Apesar de mais otimista do que os analistas de mercado, o BC situou sua estimativa em nível inferior à meta de 1% que vem sendo citada pelo Ministério da Fazenda. E reduziu a projeção anterior, feita em março, por entender que o ritmo da recuperação ainda é moderado. Segundo o BC, a retração da atividade econômica atingiu o seu "piso" na virada do ano e o País caminha agora numa trajetória de recuperação gradual. O setor de serviços e a resistência até agora do mercado de trabalho à crise financeira estão sustentando a retomada, enquanto indústria e agronegócios desaceleram. Mas o tom otimista e a projeção do crescimento ainda no azul no relatório indicaram que o BC não só não enxerga pressões de inflação como também encontra folga no chamado PIB potencial. Ou seja, o Brasil tem condições de continuar crescendo sem inflação, o que pode abrir espaço para novos cortes dos juros. A maior parte dos analistas esperava uma projeção de PIB próxima de zero e até mesmo negativa. "O número divulgado pelo BC é muito otimista", comentou a economista da consultoria Tendências, Marcela Prada, que estima para o ano uma retração de 0,6%. A projeção do IPCA de 2009 subiu 0,1 ponto porcentual, para 4,1%, patamar abaixo do centro da meta de 4,5%. Para 2010 há ainda mais folga: o BC reduziu de 4% para 3,9% a estimativa de inflação. A divulgação do relatório, principalmente com uma projeção menor de inflação para 2010, provocou ontem uma queda dos juros no mercado futuro, diminuindo as apostas anteriores de um aperto monetário no ano que vem. RISCOS Mas, apesar do tom favorável, o BC alertou para riscos e incertezas. Em particular, o de que a recuperação aconteça de forma mais lenta do que o previsto. Uma das consequências desse ritmo ainda fraco da atividade econômica, alerta o BC, é que ele afeta negativamente a arrecadação de impostos, o que pode comprometer a capacidade do governo de gerar superávit primário nas suas contas. Os superávits são importantes para evitar o aumento da dívida pública. O relatório, no entanto, afirma não ver riscos de aumento da relação da dívida com o PIB. A autoridade monetária observa que o consumo ainda pode ser afetado por uma reversão das desonerações tributárias concedidas pelo governo ou por uma piora das condições do mercado de trabalho. O relatório prevê também que a taxa de desemprego deve subir, atingindo o pico de 9,8% em julho, mas deve cair no segundo semestre e terminar o ano em 7,6%. Em maio, segundo o IBGE, o desemprego era de 8,8%. Outros pontos de incerteza são as exportações, que devem continuar a sentir os efeitos da contração dos mercados globais, e o aumento das cotações das commodities, que pode pressionar os preços dos alimentos. "Ainda há grande incerteza com relação à recuperação da economia global", disse o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita. Ele observou que, historicamente, as economias que saem de um período de recessão apresentam fortes resultados na atividade em um ou dois trimestres após a contração. "Não seria estranho se, imediatamente na saída dessa contração, tivermos um ou dois trimestres de crescimento mais forte antes de um comportamento padrão", afirmou.

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