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BC reduz projeção de alta do PIB para 1,2%

Relatório reconhece que impacto da crise no Brasil foi maior que o esperado; previsão anterior era de 3,2%

Por Lu Aiko Otta e Leandro Mode
Atualização:

O Brasil será mais prejudicado pela crise do que se esperava. O Banco Central (BC) cortou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 de 3,2% para apenas 1,2%, segundo informa o Relatório de Inflação divulgado ontem. No documento, o BC explica que o corte se deveu à queda da atividade econômica no final de 2008, "mais intensa do que se antecipava", e aos sinais de que a recuperação da economia ocorrerá de forma lenta. Veja entrevista exclusiva com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles "Estamos prevendo uma recuperação gradual que faça com que o Brasil cresça a essa taxa, que é a melhor estimativa no momento", disse ao Estado o presidente do BC, Henrique Meirelles. "Mas, evidentemente, está se tomando uma série de medidas e espera-se que possam alterar esse quadro para melhor." A projeção do BC é mais pessimista do que a do Ministério do Planejamento, que elaborou o Orçamento de 2009 contando com um crescimento de 2% no ano. É, porém, melhor do que o crescimento zero esperado pelo mercado, segundo aponta a edição de ontem da pesquisa Focus, feita com mais de uma centena de instituições financeiras. "São projeções feitas em momentos diferentes", justificou o diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita. O crescimento modesto de 2009 será alcançado, em boa parte, graças ao empurrão do Estado brasileiro. Do 1,2% projetado, quase metade - 0,5 ponto porcentual - será garantida pelo consumo do governo. O montante representa uma elevação de 2,4% em comparação com o ano passado. Entram nessa conta os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e outras despesas efetuadas com recursos públicos. O reajuste do salário mínimo e das aposentadorias, por sua vez, ajuda a preservar o consumo das famílias, que será o principal motor da economia. A expansão do PIB será calcada no mercado interno. ''Em momentos de recessão mundial e desaceleração, em geral o gasto público tem efeito anticíclico - não só no Brasil, não só agora'', admitiu Mesquita. Em contrapartida, os investimentos do setor privado (a chamada Formação Bruta de Capital Fixo), que nos tempos de bonança ajudavam a engordar o PIB, este ano terão um desempenho quase nulo. A expectativa é que eles cresçam apenas 0,7%, contra taxas na casa de 13% registradas em 2007 e 2008. Assim, contribuirão com apenas 0,1 ponto porcentual no crescimento de 1,2%. Mário Mesquita comentou que o desempenho dos investimentos pode melhorar no final do ano. De acordo com o Relatório, a crise internacional "ainda não deu sinais de arrefecimento" e seu alcance tem se revelado "mais abrangente do que o inicialmente previsto, especialmente no que se refere ao impacto sobre os mercados emergentes". Isso afeta não só os investimentos e o consumo, como também o emprego. A expectativa do Banco Central é de que a taxa de desemprego chegue a 8,8% este ano, ante 7,9% em 2008. De outro lado, o esfriamento da economia ajudou a reduzir as projeções de inflação neste ano, abrindo espaço para cortes nas taxas de juros. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é usado no sistema de metas de inflação, caiu para 4%, ante os 4,7% previstos no Relatório de Inflação de dezembro passado. A projeção é do chamado "cenário de referência" do Banco Central. "Não será surpresa se tivermos uma inflação abaixo do centro da meta em um ano em que a economia cresce menos do que vinha crescendo", disse Mesquita. "Ou, colocando de outra forma: se a inflação ficar em 4,5% num ano em que a economia cresce 1%, dá para imaginar qual seria a taxa de inflação quando a economia voltasse a crescer com maior dinamismo." Questionado se essa declaração seria defesa antecipada a críticas a respeito de um eventual erro de calibragem da taxa de juros, Mesquita negou. "Não se trata de defesa, é uma constatação", disse.

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