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BC reforça juro para conter consumo

Objetivo é frear o crescimento do consumo das famílias, de 8,6% no último trimestre do ano passado, para 6%

Por Beatriz Abreu , Ricardo Gadour e João Bosco Rabello
Atualização:

O Banco Central (BC) vai recorrer novamente ao aumento da taxa básica de juros (Selic) para reduzir o crescimento do consumo das famílias ao nível de 6% e controlar a inflação. Impulsionado pela aceleração da atividade econômica, o consumo das famílias brasileiras fechou o último trimestre do ano passado com expansão de 8,6%. As indicações são de que a população continua indo às compras em ritmo ainda incompatível com o da atividade econômica, cujo crescimento foi de 5,4% no ano passado. A estratégia da autoridade monetária não é provocar uma queda brusca no consumo associando a dosagem dos juros a outras medidas restritivas, como limitação no prazo das compras a crédito - a exemplo do que foi defendido pelo Ministério da Fazenda há poucos meses. Onde o BC identificou necessidade de intervenção, ela já ocorreu: impediu que as empresas lançassem mão de recursos do sistema de leasing para alavancar novos empréstimos, uma espécie de subprime no setor automotivo. Os economistas do governo acreditam que, aos poucos, o efeito do aumento da Selic será percebido também na oferta de crédito das instituições financeiras e em mecanismos utilizados pelas lojas para financiar compras. "Vamos acompanhar o movimento do crédito mensalmente", disse uma fonte do governo ao Estado. Esse olhar clínico do Banco Central tem dois objetivos: verificar se a oferta de crédito está ocorrendo em um nível acima do teto desejado pelo governo e se as instituições estão adotando uma atitude de cautela na liberação de financiamentos. Nesse caso, a preocupação não é exatamente com o nível do consumo, mas com a segurança do sistema financeiro. O BC quer trazer o consumo para níveis mais baixos sem causar nenhum tipo de frustração à camada da população de baixa renda, que, nos últimos anos, passou a ter acesso a bens antes inacessíveis. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva até admite ser necessário conter a escalada da inflação e assimila o diagnóstico de que o excesso de demanda interna é fator de aceleração dos preços. Mas não aceita que essa estratégia rompa o ciclo de crescimento da economia e tampouco atinja os mais pobres. Uma nova dosagem nos juros deverá ser administrada na terça e quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, integrado pelos diretores da instituição, se reúne para definir a Selic para os 50 dias seguintes. A hipótese mais forte no mercado financeiro e mesmo entre setores do governo é de um novo aumento nos juros. A calibragem é que diferencia as apostas. No mercado, analistas admitem uma correção da taxa Selic de até 0,75 ponto porcentual. No governo, há os que consideram um aumento de 0,5 ponto porcentual, jogando a taxa para 12,25%, ante os 11,75% atuais. Os mais otimistas torcem para que a alta fique em 0,25 ponto. SEM TOMBO "Trata-se de um ajuste dosado; não estamos falando de dar um tombo na atividade econômica e, com isso, restringir os níveis de consumo no País de forma drástica", revelou uma fonte do governo. "Vamos conter o consumo, mas, ainda assim, o índice continuará elevado." O ponto de referência do BC é o resultado apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2004 e 2005, quando o consumo familiar cresceu entre 4% e 5,5%, um salto em relação à queda de quase 3% em 2003. Naquele ano, o BC foi obrigado a dar um choque na economia, promovendo uma alta na taxa básica de juros para controlar a inflação e remover as incertezas do mercado na transição para o governo Lula. Essa redução de ritmo para 6% não é tão drástica, na avaliação dos técnicos, porque, com esse porcentual, no período de 2005 a 2007 houve uma mudança significativa na estrutura social do País. As classes D e E, que correspondiam a 51% da população, diminuíram para 39%, engordando a classe C, que pulou de 34% para 45%.

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