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BC substituiu ''choque de juros'' por medidas para conter o crédito

Medidas anunciadas no fim do ano foram eficazes para reduzir o crédito e impediram alta ainda maior da taxa Selic

Por Beatriz Abreu
Atualização:

O Banco Central optou pelas medidas prudenciais para conter o nível de crédito e da demanda doméstica para não adotar "um choque de juros" no País. As medidas, anunciadas no início de dezembro, foram eficazes na redução do crédito e na alta de juros nos financiamentos, principalmente de automóveis. "Se o Banco Central tivesse dado uma alta de 1 ponto porcentual na Selic, o efeito na contenção do crédito não seria o mesmo. O impacto não seria localizado e comprometeria todos os setores da atividade econômica", disse uma fonte à Agência Estado. O foco do Banco Central é trazer a inflação para o centro da meta de 4,5%, adotando ao mesmo tempo maior moderação no crédito e na demanda, mas sem derrubar o crescimento econômico. Em 2010, o crédito cresceu 20%. A estimativa para este ano é limitar o crescimento do crédito em 15% e reduzir os índices de consumo no País, tanto da população como do governo. O ano passado fechou com um aumento de 10% na demanda, nível considerado elevadíssimo. No caso do governo, o cenário traçado nos documentos do BC considera que será executada a meta de 3% de superávit primário sem artifícios contábeis. A restrição ao crédito atingirá todos os bancos, independentemente do porte. O Banco do Brasil anunciou esta semana que vai aumentar o crédito para pessoa física em 22% e não em 25%, como em 2010. Os alertas de que as instituições menores poderão sofrer com a pouca oferta de dinheiro no mercado, no momento, não preocupam economistas do governo. O crédito está elevado e o País não pode suportar um crescimento contínuo, sem correr o risco de perder o controle da inflação. Esse é o raciocínio para as medidas prudenciais de corte do crédito. O Banco Central quer conter a ampliação do crédito em 15% (em 2010 foi de 20,5%), que é compatível com um crescimento de 4,5% na economia e com o retorno da inflação para a meta de 4,5%. A adoção das medidas prudenciais foi tema de discussão no mercado esta semana. Analistas e operadores levantaram dúvidas se esse tipo ação é tão eficaz quanto o instrumento clássico: a alta da Selic. A eficácia, segundo fontes, está comprovada e o resultado não excluiu uma alta dos juros, como demonstrou o Copom na decisão de elevar a Selic para 11,25% ao ano. Esse questionamento surpreende o BC porque no parágrafo 29 do Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro, as medidas são definidas como "um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda". Na leitura, deve-se grifar "instrumento rápido e pressões localizadas". Esse resultado foi alcançado, na análise do banco. As medidas (aumento do crédito que os bancos devem depositar no Banco Central e elevação das exigências para concessão de empréstimo) provocaram uma queda significativa no volume de financiamento para automóveis. Os gráficos indicam que, no fim de dezembro, o crédito para aquisição de automóveis caiu do nível de cerca de R$ 600 milhões para R$ 300 milhões, considerando-se uma média móvel de cinco dias. As taxas de juros tiveram movimento oposto e subiram de 22% para 27%. No caso do crédito pessoal, os juros saltaram de 40% para os 45% ao ano. O movimento do crédito e das taxas cobradas pelos bancos vinculados a montadoras foi mais lento, embora também tenha se elevado.

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